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IMAGENS ESCRITAS DE ABRANTES... A GUERRA DAS PIPAS

No ano em que se comemora o "Centenário de Abrantes como Cidade", nada melhor de que recordar alguns textos (escolhidos), imagens escritas, que o Coronel Joaquim Maria Valente, autor do livro "LANÇANDO AO VENTO... no Concelho de Abrantes" consagrou à então Vila de Abrantes, período 1885/1905: 
-Na próxima publicação do mesmo autor e livro: “O SENHOR BARÃO DE BERTELINHO (Juiz da Comarca) e SENHOR JOSÉ PÉRES (Figura inspiradora de Rafael Bordalo Pinheiro na criação do ZÉ POVINHO”.

A «GUERRA DAS PIPAS»
A pequena distância do «Papa Feijão» constituía o canto existente entre este edifício e a entrada do Castelo um parque, onde os negociantes de azeite instalados na Ferraria guardavam os cascos do seu negócio, quando vazios.
Era lá que alguns dos poucos estudantes locais, (estu­dava-se pouco naquele tempo) na idade dos doze a treze anos, reuniam de vez em quando, ao lusco-fusco, e prati­cavam, divididos em dois partidos, simulacros de combate, não a tiro, mas à pedrada a coberto dos cascos vazios.
O entusiasmo subia de ponto quando os impactos nos cascos de pedras grandes, guardadas para o fim, ecoavam fortemente e então dizia-se ser a artilharia de grosso cali­bre, que chegava para fazer a decisão da batalha. Simulacro de corpo a corpo punham fim ao combate com honra para os dois partidos.
Em época em que não era ainda conhecido o futebol nem a bicicleta, era a chamada «guerra das pipas» um divertimento um tanto violento, de que só os referidos rapazes usavam como exercício a coberto das sombras do crepúsculo, em sítio pouco frequentado.
Lembramo-nos de que de tais combates era grande en­tusiasta a estudante Raul Esteves, filho de um segundo comandante de regimento de caçadores 8, rapaz que veio a ser oficial de engenharia, esteve no CEP em França (guerra de 1914), foi observador activo na guerra civil de Espanha e andou embrulhado nalgumas das revoluções que se seguiram à de 5 de Outubro de 1910, tendo falecido há poucos anos no posto de general.
Disse-nos ele algumas vezes, recordando Abrantes e o bom tempo de autrora, foi na nossa guerra das pipas que eu iniciei a minha carreira militar. Foi ela para ele, notamos nós, de aspecto voluntariamente combativo.
E ao descermos a encosta da colina é doce, como diz Guerra Junqueiro, parar, volver muito para trás a me­mória e soletrar a sua bela quadra:

Lembram-se vocês do bom tempo de outrora,
Do tempo que passou e que não volta mais,
Quando íamos a rir pela existência fora
Alegres como em Junho os bandos de pardais?
(PÁGINAS 58/59 - do livro "Lançando ao Vento... no Concelho de Abrantes - Caderno do Coronel Valente". O texto é uma cópia do referido livro. 


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