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CORETOS DO CONCELHO DE ABRANTES

José Manuel d'Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede Nov2006)

“…simbolizavam espaços de alegria e divertimento popular”

Fazem parte do património histórico de uma sociedade que hoje procura uma outra forma de divertimento que não a cultura popular.
Essencialmente um divertimento de Verão, os “Coretos”, pequenas construções em jardins ou praças públicas, onde as bandas filarmónicas realizavam concertos, foram perdendo cada vez mais a importância que tinham na sociedade.
De forma circular ou poligonal, estes palcos, outrora ponto de encontro, local de convívio e divertimento, elementos identificadores de um modo de vida social numa época em que o movimento associativo mais se fazia ouvir em Portugal (Século XIX), estão ao abandono.
Os “Coretos” são conhecidos no Concelho de Abrantes desde 1894, data em que o primeiro foi construído no “Passeio do Castelo”, então Vila de Abrantes.
De reconhecido interesse cultural, estes imóveis, símbolo de espaços de alegria, convívio e divertimento popular, associados a Colectividades, pouca ou nenhuma utilização tem tido por aqueles que foram em tempos os seus grandes utilizadores: as “Bandas Filarmónicas”.
O Concelho de Abrantes possuía até ao ano de 1956 oito “Coretos”.
Esta é a sua história. Com ela, se pretende, constituir um simples roteiro que sirva de base a um estudo mais completo de um património tão intimamente ligado ao “associativismo:
ABRANTES, 1894 – Neste ano, no antigo “Passeio do Castelo”, hoje “Jardim do Castelo”, foi mandado erigir um “Coreto” (fig. 1).

O Jornal “O ABRANTES” de 18 de Março e 29 de Abril desse ano, referia-se assim ao início da sua construção: “Vai brevemente principiar a construção de um coreto no passeio do Castello. Vimos a planta e pareceu-nos muito elegante o que nos leva a affirmar que ficará lindíssimo”.
“Está-se procedendo á construção do Coreto no Passeio do Castelo. A obra é feita por administração, visto não ter havido licitantes”
.
Base de alvenaria, estrutura em ferro, cobertura em chapa, cercadura com elementos decorativos, suportada por colunas verticais e acesso por escada exterior, este “Coreto” de forma octogonal, foi provavelmente inaugurado no final do ano de 1894 ou início de 1895 (fig. 1/a).ABRANTES, 1910 – Neste ano a Vila de Abrantes teve o seu segundo “Coreto”.
No “Largo do Príncipe Real”, hoje Praça da Republica, precisamente no lugar onde hoje se encontra o Monumento aos Mortos da Grande Guerra 1914/1918 encontrava-se erguido um “Coreto”. Mandado construir em 1910 pela Câmara Municipal de Abrantes, foi concluído a 17 de Julho do mesmo ano e demolido em Setembro de 1939. Este era em tudo muito semelhante ao que se encontra no Jardim do Castelo. (fig. 2).

Não sendo o texto dedicado às Bandas, refira-se no entanto da probabilidade da “Filarmónica de Abrantes”, cuja existência já se conhecia em 1891, ter actuado nos “Coretos” de Abrantes.
Como curiosidade: veja-se a “Filarmónica de Abrantes” a desfilar na Rua D. Afonso Henriques. No canto inferior direito da foto, localiza-se actualmente a “Abranclinica”, antiga “Casa de Saúde de Abrantes” (fig. 3)

TRAMAGAL, 1922 – Inaugurado no dia 17 de Setembro este “Coreto” foi desmantelado há poucos anos.
Por informações obtidas no local, no dia 10 de Setembro de 2006, consta estarem as peças deste “Coreto” numa oficina do Tramagal e que a Associação de Melhoramentos pensa reconstruí-lo, mandando fazer as peças em falta.
Neste exemplar bem ao estilo português, a Filarmónica da então “União Fabril”, nascida em 1 de Julho de 1901, actuou inúmeras vezes.
Construído a expensas do “Grémio Musical Tramagalense”, ajudado por alguns grados da terra, se não fosse desmantelado teria hoje a bonita idade de 84 anos.
A Sociedade Artística Tramagalense e o seu “Coreto” fazem parte da história mais genuína do associativismo que alguma vez se viu em todo o Concelho.
Ver o “Coreto” no local original, seria para a Sociedade Artística Tramagalense (SAT) e povo do Tramagal a prenda mais original alguma vez oferecida a uma Freguesia (fig. 4).ROSSIO AO SUL DO TEJO, 1915 – É exemplar único. No nosso Concelho é, sem dúvida, o mais bonito entre todos os “Coretos” existentes.
Inaugurado no dia 20 de Setembro de 1915, este “Coreto” encontra-se no Largo D. Joana Godinho Soares Mendes.
Só descritível por entendido este “exemplar” é uma bela obra de arte e técnica portuguesa.
Base de pedra, estrutura de ferro, forma octogonal, cercadura com elementos decorativos, cobertura em chapa é suportada por colunas em ferro fundido. O acesso faz-se pelo exterior (fig. 5).SOUTO (I) (Nossa Senhora do Tojo), 1956 – No dia 5 de Agosto, o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Machado inaugurou este “Coreto”.
De construção moderna, tem a particularidade de ter forma cónica. Aqui, neste “Coreto, actuou pela primeira vez o “Agrupamento”, os “Rouxinóis Ribeirenses” (fig. 6).SOUTO (II) – Nesta Freguesia existe ainda um outro “Coreto”, cuja data de inauguração não nos foi possível confirmar. Este encontra-se na Praça Luís de Camões, junto à Igreja.
É de alvenaria tem forma hexagonal e o acesso faz-se por escada interior (fig. 7).ALVEGA, 1981 – No dia 13 de Junho na Praça da Republica, foi inaugurado este magnífico “Coreto”. De construção moderna, é o maior “Coreto” de todas as Freguesias do Concelho de Abrantes (fig. 8).RIO DE MOINHOS – Junto à Igreja Matriz desta Freguesia, encontra-se o único “Coreto”, sem cobertura, do nosso Concelho.
A data da sua construção é desconhecida. No entanto, um painel de azulejos que se encontra no Largo 5 de Outubro e que refere este Largo como Mercado da Aldeia em 1950 já nos mostra a existência do “Coreto”.
Também numa fotografia da Banda Filarmónica de 1940, se vê o parapeito do referido “Coreto”.
Assim, é provável que este “Coreto” tenha sido construído nos primeiros anos do Século passado! (fig. 9).Em forma de “quadrado”, este “Coreto”, é em tudo diferente daqueles que estamos habituados a ver.
Não havendo referências sobre os motivos que levaram à construção deste “curioso” modelo de “Coreto”, há, no entanto, importantes referências da “philarmónica riomoinhense”, como sendo a Banda mais antiga do Concelho, cuja existência remonta a 1821.
Rui André, Presidente da Junta de Freguesia, professor e estudioso de História e Património de Rio de Moinhos, diz-nos ter havido em tempos um projecto de alteração ou reconstrução do “coreto”, cuja planta se encontra na Sede da Junta.
Sendo este um modelo diferente de todos os que conheço, algo me diz estarmos perante uma história desconhecida que merece ser aprofundada. Até lá, deve ser conservada a forma original do “Coreto” de Rio de Moinhos.
Estes eram os palcos onde actuavam as “Bandas Filarmónicas”. Aqui, em redor dos “Coretos” se juntava o povo para ouvir a “ópera dos pobres”.

Para a feitura deste artigo, colaboraram com informações: Tramagal - Sociedade Artística Tramagalense. Rio de Moinhos - Presidente da JF Rio de Moinhos, Rui André “saúda-nos pelo trabalho realizado e por realizar a fim de mostrar às gerações vindouras e sobretudo às actuais o potencial histórico existente em todo o Concelho”.

ABRANTES - FONTES E LAVADOUROS

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede Agosto 2006)
“…são os monumentos mais visíveis de um certo gosto de populações antigas”

Dados históricos do século XVI/XVII, dizem-nos não ter existido dentro da “Villa” de Abrantes, fonte alguma de água potável. Existia sim, uma fonte cujas águas de tão salobras que eram, não serviam sequer para lavar com sabão, mas tinham a particularidade de servir para amassar o pão e para trabalhos de tinturaria. Esta era a fonte do Chafariz ou “Fonte do Salgueiro” (Abrantes). Este tanque, inicialmente um poço, foi transformado em fonte pública e logo de seguida em Chafariz, tendo servido outrora para dar de beber às “bestas”. Hoje, quase não é reconhecível, tal o seu estado. Para melhor localização, diga-se que se encontra nas traseiras do Mercado Municipal e serve de entrada para um parque de automóveis da cidade (fig. 1).
Fig.1
Fonte dos Frades (Abrantes). Esta fonte ficava perto das muralhas, junto do Convento dos Frades e Terreiro de Stº António. Pequena nascente de água potável, foi em 1868, objecto de obras para aumentar o seu caudal, de forma a poder ser conduzida para a “Villa”.
Junto a esta fonte, também designada por Fontinha, existe um antigo lavadouro municipal, cujas águas provinham dessa nascente. No local, ainda há vestígios (razoáveis) de água a brotar da encosta. Confrontando fotos antigas, com as actuais, é notório o estado de degradação do lavadouro público. Actualmente encontra-se a servir de arrecadação e palheiro (fig. 2).
Fig.2
Fontes de S José. Devido à excelente qualidade destas águas, os habitantes de Abrantes utilizavam-nas para beber e em usos domésticos. Tinha no entanto a particularidade de ficare a mais de 800 metros das então muralhas da “Villa”.
Da Fonte de S José (Alferrarede), sabe-se terem sido feitas obras de desobstrução de canos e a mina ter sido abobadada de novo até á origem do nascente em 1865.
Sabe-se também ter a Câmara dispendido com essa obra a importância de 128 mil duzentos e cinquenta réis (fig. 3).
Fig.3
Fonte do Aipo (Abrantes). Junto ao antigo campo de futebol “a sul do Barro Vermelho (“Toponímia Abrantina” de Eduardo Campos), existe uma fonte cuja água era tida de boa qualidade, e donde os Abrantinos beberam durante muitos e muitos anos.
Os topónimos Vale e Fonte do Aipo atestam-se em documentos de meados do século XVII (LR5, f. 100 v e AM, 1, 17”)
Nota: até à data não foi possivel encontrar qualquer foto deste local. No entanto, por ter sido palco de imensos acampamentos e pic-nic's nos anos 30/40/50 do Século passado, é provável haver quem as possua).
Fonte Quente e Lavadouro (Alferrarede). Recebeu em 1867 e 1868 melhoramentos profundos de limpeza.
Após visita ao local, constata-se o abandono a que foi sujeita. Esta fonte e lavadouro (público) são sem dúvida dos mais belos exemplares existentes no nosso Concelho. Os brasões existentes nas suas paredes, só por si, justificam a conservação e restauro imediato de tão importante monumento histórico (fig. 4).
Fig.4
Fonte de S. Caetano (Abrantes). Tal como a fonte Quente, foi sujeita a melhoramentos, nos anos 1867/68. Localiza-se a meia encosta, entre Abrantes e Alferrarede. Durante muitos e largos anos serviu as populações próximas da cidade.
Assim era no século XVI/XVII, assim é no século XXI. Com menos frequência, é certo, mas ainda se vê gente a encher os garrafões de água nesta fonte. Os mais afoitos que se atrevem a percorrer o caminho Abrantes/Alferrarede e vice-versa, lá continuam a parar e a saciar a sede na calha de S. Caetano.
Chegar ao local é um autêntico martírio. A bica ainda corre em abundância e a água que corre para um tanque (não se vislumbra), serve para regar as hortas que por ali vão persistindo. Beber um trago de água nesta bica, descansar e conversar, era um hábito que os trabalhadores das indústrias de Alferrarede faziam quando regressavam a suas casas em Abrantes (fig. 5).
Fig.5
Na foto que retrata a fonte, pode-se ver no canto superior direito, um desenho a guache, do pintor Abrantino, Mário Cordeiro.
Por se encontrar actualizado, veja-se o que a C.M.A deliberou em sessão no dia 11 de Julho de 1792: “… que fosse reparada com toda a brevidade o Caminho das hortas de Saõ Caetano, por ser hum das maiores necessidades deste Povo”.
Menos conhecida das novas gerações, mas bem conhecida da antiga população de Abrantes a nascente dos Passarinhos (?) ou Fontinha (?), encontra-se bem perto da fonte do Chafariz. Nesta fonte, era vulgar encontrar os profissionais da “rede”. Longe dos olhares das autoridades, as “redes” eram montadas e capturava-se os tão apetecidos passarinhos, petisco comercializado nas numerosas tabernas existentes em Abrantes. Actualmente, os caminhos estão intransitáveis e a fonte não se vislumbra. No seu lugar correm águas de esgoto (fig. 6).
Fig.6
Estas foram as fontes que serviram a “Villa” de Abrantes. Outras há que, pela importância que tiveram na época, merecem destaque: Duque de Loulé (Alferrarede). Mais do que um simples fornecedor de água, esta fonte tem exercido sobre as populações que dela se servem (ainda), um poder quase que milagroso. Apesar das muitas placas a interditar o seu uso, as mesmas desaparecem e, como que num círculo vicioso os fregueses lá continuam a encher de água os garrafões e a lavar os carros.
Por se encontrar bem perto da estrada. Merece das entidades responsáveis um outro tratamento, para que se torne um local aprazível e funcional (fig. 7).
Fig.7
Ómnia (Alferrarede/Quinta do Bom Sucesso). Possui esta Quinta uma das melhores nascentes de água na região. Por se tratar de uma propriedade particular, pouca gente se desloca hoje à Fonte da Ómnia. Todavia, no passado, esta fonte era muito procurada pelos habitantes da região. Por generosidade da então Marquesa do Faial, D. Maria Assunção de Sá Paes do Amaral, esta nascente abasteceu durante algum tempo a parte velha de Alferrarede (fig. 8).
Fig.8
S Jerónimo, S João, Pastores, etc. etc., são fontes ainda existentes. Sobre estas e muitas mais, nos debruçaremos mais tarde se não houver quem o faça antes.
No Rossio ao Sul do Tejo, na margem Sul, existiam duas fontes: a Fonte dos Touros (fig. 9), foi, após muitos anos de abandono, encontrando-se em ruina, foi recuperada. A Fonte das Nogueiras, com uma abundante bica de água a correr para um lavadouro, pura e simplesmente desapareceu. Para a recordar, resta uma ou outra fotografia que assinala o local onde a mesma se encontrava (fig. 10).
Fig.9
Fig.10
Fotos:
Fig. 2 Carlos Vieira Dias
Fig. 8 e 9 "Jornal de Alferrarede"