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ABRANTES - ÓRGÃOS DE TUBOS

Por José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Maio2007)

“Em tantos anos, foi a primeira pessoa a interessar-se por isto…” Carlos Barata Gil – 22/3/07

“ORGÃO DE TUBOS” – Instrumento musical de teclado, sopro e foles, usado principalmente nas igrejas (com a pressão exercida no teclado os foles comprimem o ar, que, passando por tubos, produz sons).
O encontro inesperado com Carlos Barata Gil, na papelaria “Papirus” em Abrantes, levou a fazer a pergunta que andava para ser feita há muitos meses e que só ele me poderia responder: “ÓRGÃOS DE TUBOS”.
Pela forma como sorriu e espontaneamente me levou para sua casa, sem saber quem era, fiquei logo a saber que Carlos Barata Gil não me deixaria sair de lá sem saber tudo o que pretendia. Para que tão importantes e valiosos instrumentos viessem a ser restaurados e postos ao serviço da comunidade e da cultura em Abrantes, Carlos Barata Gil, fez um levantamento dos órgãos de tubos existentes nas paróquias de S. Vicente e S. João Batista, posteriormente utilizado em 1983 pelo Padre Lúcio Alves Nunes, para responder a um Oficio do “Departamento de Musicologia do Instituto do Património Cultural”.
Muito falados na imprensa, mas depressa esquecidos, o dia 23 de Setembro de 1989 trouxe para Abrantes a esperança de um dia todos os órgãos de tubos existentes nesta cidade virem a ser restaurados, como foram os da Igreja de S. Vicente.
Dos apontamentos de Barata Gil, antigo “bibliotecário” da C.M.A. e “organista”, retirei o mais importante que se conhece deste património histórico, de valor incalculável que são os “ORGÃOS DE TUBOS” existentes em Abrantes(a).

IGREJA DE S. VICENTE - (foto antiga)

A Igreja de S. Vicente possui dois órgãos de tubos: um fixo, “ Grande Órgão” (fig. 1) e um outro no coro do Igreja denominado de “Positivo” em forma de “armário amovível” (fig. 2).

Fig. 1

Fig. 2

Do órgão fixo que se encontra instalado na capela-mor (lado esquerdo), conhecem-se as características: teclado de 4 oitavas e meia, 18 registos (9 do lado direito e 9 do lado esquerdo). Na parte inferior destinada ao lugar do organista tem pintado a tinta preta os dizeres: “Feito em 26 de Maio de 1791” e “Reedificado em 19-5-1877”. Por cima do teclado tem escrito a lápis o seguinte: “O organista da Sé de Lisboa Júlio Simões tocou cá no dia 3 de Março de 1919 e achou-o em bom estado”.
Este “Grande Órgão” é constituído por cerca de 1.200 tubos e foi o “25º órgão construído pelo mais notável português, fabricante de órgãos, António Xavier Machado e Cerveira”.
Ambos os órgãos (móvel e fixo) da Igreja de S. Vicente foram alvo de reparação pelo “organeiro” de Condeixa-a-Nova, António Simões, nos anos 1987 e 1989 respectivamente (fig. 3/4). Depois de restaurado, Abrantes assistiu ao concerto inaugural do “Grande Órgão” no dia 23 do mês de Setembro de 1989. O órgão positivo, amovível, do Século XVIII tem como autor Frei Simão (Joaquim António Peres Fontanes).

Fig. 3

Fig. 4

IGREJA DE S. JOÃO (foto antiga)

Na Igreja de S. João, na capela-mor (lado direito), existe um órgão de tubos (fig. 5), com as características: teclado de 4 oitavas, 13 registos (7 do lado esquerdo e 6 do lado direito). Construído por um padre desconhecido, este órgão nunca restaurado e actualmente em muito mau estado, poderá ser o que consta no “livro nº 1 de receita e despesa da fábrica da capela-mor” e do qual se diz: “Despendi com os pedreiros que abriram a parede na capela-mor para se acentar o órgão e cal e área e matereaes 15095 reis” (f. 94 - ano 1747). No entanto, no mesmo livro, ano 1681, aparece uma despesa de cento e setenta reis, referente a: “…e uma macha fêmea (dobradiça) da porta do órgão (f. 12v)
Teria existido um outro órgão na Igreja de S. João em 1681?
Como curiosidade refira-se que alguns tubos de madeira do órgão da Igreja de S. João estão forrados exteriormente com jornais de 1869.

Fig. 5

IGREJA DA MISERICÓRDIA (foto antiga)

Na Igreja da Misericórdia, encontra-se o quarto órgão de tubos, existente na Cidade de Abrantes (fig. 6). Em muito mau estado, este órgão positivo amovível, singelo, de autor desconhecido, só não foi restaurado em 1989/90 (+ -) pelo “organeiro” de Condeixa-a-Nova, António Simões, devido aos custos insuportáveis que o mesmo acarretava para a Santa Casa da Misericórdia de Abrantes.

Fig. 6

Descritos que foram os “órgãos de tubos” existentes em Abrantes, sabendo-se a importância que os mesmos representam como património histórico e cultural do Concelho, porque não integrá-los nas actividades culturais da cidade?

Carlos Barata Gil

(a) Referências fornecidas pelo senhor Barata Gil: Oficio 29 de Abril de 1983 ao Departamento de Musicologia do Instituto do Património Cultura do Arcipreste de Abrantes. Relatório estado órgãos Igrejas S. Vicente e S. João. Informações do livro nº 1 receita e despesa fábrica capela-mor de 1681 a 1747. Elementos retirados do livro nº 1 de Actas da Junta da Paróquia desde 1873 a 1877.
Agradecimentos: Ao Sr. Cónego José da Graça e ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, Sr. Capitão Horácio Mourão de Sousa por nos terem autorizado a ver e a fotografar os “órgãos de tubos” existentes em Abrantes.

NOTA - Pelo estado em que os órgãos da Igreja de S. João e da Misericórdia de Abrantes se encontram, restaurá-los torna-se dispendioso para as respectivas congregações. A recuperação destes órgãos só é possível através de uma candidatura como fez o Município de Cabeceiras de Basto. Neste Município, o Ministério da Cultura, apoiou a recuperação dos órgãos de tubos, “que envolve acções materiais e imateriais, estas com a realização de 2007 a 2009, de um Festival de Musica Antiga na região”.
E Abrantes?!...
Fotos: José Vieira e arquivo “Jornal de Alferrarede”