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HISTÓRIA DA SUB-AGÊNCIA DA LIGA DOS COMBATENTES DA GRANDE GUERRA E DO NÚCLEO DE ABRANTES 1923/2005


José Manuel d'Oliveira Vieira
(Autor Artigos publicados nos "Jornais de Alferrarede" nºs 223 a 230)
CAPÍTULO VII

PRESIDENTES DA SUB-AGÊNCIA DOS C.G.G. DE ABRANTES, DESDE A SUA FUNDAÇÃO ATÉ 1936:

TIAGO DIAS DO NASCIMENTO, Alferes de Infantaria em 1923, foi o 1º Presidente da Direcção da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra em Abrantes. A comprová-lo está a Acta n.º 1 de 16 de Outubro de 1923 da Liga dos Combatentes da Grande Guerra que é prova disso mesmo. De Tiago Dias do Nascimento, sabe-se ter sido combatente da G.G. 1914/1918, ser o primeiro Presidente da Sub-Agência de Abrantes, professor no antigo Colégio de Abrantes em 1935, local onde hoje se situa a Pensão Central e Presidente da Direcção do Montepio Abrantino em 22 de Dezembro de 1936. Foi sócio n.º 125 da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes e no livro de quotas do ano de 1939 consta ter falecido em 22 de Fevereiro de 1939. No mesmo livro faz-se menção à acta n.º 6, que provavelmente dá conta da sua morte e actividades enquanto 1º Presidente da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes em 1923 (fig. 34).
JOSÉ GARCIA MARQUES GODINHO, Major de Infantaria, Presidente da Direcção da Agremiação de Abrantes nos anos 1924/1925 e 1934/1935, foi sócio n.º 58 da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes. Da sua biografia sabe-se ter nascido em 1881, nas Galveias, e ter servido no C.E.P. (Corpo Expedicionário Português) em França. Numa fotografia, enquanto Comandante do RI2 em 1939, o então Coronel Godinho apresenta as mais altas condecorações. Igualmente sabe-se, pela “Cronologia de Abrantes no SÉCULO XX”, de Eduardo Campos, que o General JOSÉ GARCIA MARQUES GODINHO foi preso por envolvimento numa conspiração contra o regime em 21 de Julho de 1947. Em 24 de Dezembro do mesmo ano, morre no Hospital Militar da Estrela. Casou com D. Palmira Pimenta de Almeida Beja Marques Godinho, natural de Abrantes, onde residia em diversas ocasiões, sendo em continuados anos Comandante do Regimento de Infantaria N.º 2. Em 1946, foi um dos 46 signatários do Pacto dos Oficiais do Exército e da Marinha de Guerra Portuguesa, cujo objectivo era o afastamento de Salazar. Em 30 de Janeiro do ano seguinte, a viúva do General é detida durante cerca de 15 dias após requer à Polícia Judiciária a investigação das circunstâncias que rodearam a morte do seu marido, que foi sepultado no cemitério municipal de Abrantes (fig. 35/39).D. LUÍS DA COSTA MACEDO, Major de Engenharia, tomou posse como Presidente da Direcção da L.C.G.G. de Abrantes em 1926. Durante a sua direcção, foi projectado o Congresso Nacional do Combatente, tendo sido convocada a reunião no Regimento de Artilharia N.º 8. Em simultâneo com a presidência da Liga, o ilustrado Major fez parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Abrantes onde às suas custas fez o projecto do Bairro Operário, o primeiro projecto do edifício da Assembleia e da Sopa dos Pobres. Se como militar e Presidente da Sub-Agência da Liga de Abrantes pouco se sabe, como Vice-Presidente da C.M.A. foi o mais estimado amigo que o povo Abrantino alguma vez teve. As suas qualidades de Engenheiro Militar foram postas ao serviço da autarquia, desprezando as sequelas políticas vividas então (fig. 36).JÚLIO SERRAS PEREIRA, Capitão de Infantaria no R.I. N.º 2 em Abrantes, nasceu no Sardoal no ano de 1893 e faleceu nesta cidade no ano de 1972. Combatente da Grande Guerra, esteve na frente de combate na Flandres (França), onde ganhou a Medalha de Cruz de Guerra. Das muitas condecorações que ostentava, salienta-se a Medalha de Mérito Militar e o direito ao uso do distintivo especial da condecoração da Torre e Espada, a maior condecoração portuguesa, por feitos relevantes em combate.
Após a G.G. 1914/1918, o Capitão SERRAS PEREIRA participou em Lisboa no restabelecimento da ordem pública, para reposição do regime então vivido. Entre 1941 e 1943, fez igualmente parte das tropas Expedicionárias a Cabo Verde.
Homem de carácter, coragem e sentido de solidariedade social, desempenhou sem qualquer remuneração as funções de Vice Presidente da C.M.A., Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, Presidente da Comissão de Assistência de Abrantes e membro da Direcção da Cooperativa Militar de Abrantes. Professor e fundador do colégio liceu de Abrantes onde leccionou as cadeiras de Inglês, Francês e História, também foi professor nos Colégios La-Salle (Abrantes) e Sardoal.
Sócio n.º 123 da Sub-Agência da Liga dos C.G.G. de Abrantes, o então Tenente de Infantaria do R.I.2 JÚLIO SERRAS PEREIRA, foi seu Presidente em 1930/1931 (fig. 37).ABEL MALHOU ZÚNIGA, Capitão de Infantaria no R.I. N.º 2 em Abrantes, foi Presidente da Sub-Agência da L.C.G.G. de Abrantes em 1932/33. Nasceu a 9 de Julho de 1888, filho de João Sanz Zúniga e de D. Antónia Carolina C. M. Zúniga, ingressou como voluntário no R.I.3. Em Novembro de 1912, foi colocado no Regimento de Infantaria N.º 2 Abrantes. Combatente da Grande Guerra 1914/18, esteve por duas vezes na frente de combate, precisamente em La Lys, de onde enviou diversas fotografias aos familiares e amigos em Abrantes. Em 1941/43, fez parte das Forças Expedicionárias a Cabo Verde. Oficial distinto foi Comandante do R.I. N.º 2 em 1945/46. Possuidor de diversos louvores, foi condecorado com a Medalha de Mérito Militar, Ordem Militar de Avis, Medalha de Comportamento Exemplar grau cobre, prata e ouro, Medalha das Campanhas do Exército Português, com a Legenda França – 1916, Estrela de Prata Medalha da Vitória e ferrrageie da Cruz de Guerra de 1ª Classe por condecoração da Bandeira do R.I. 22. O Coronel Zúniga, após quarenta e dois anos de serviço, passou à situação de reserva na Cidade de Abrantes em 9 de Julho de 1948. Foi Sócio fundador n.º 4 da Sub-Agência de Abrantes.
A biografia do Coronel Zúniga ficaria incompleta se nos esquecêssemos de lembrar que fez parte da última comissão para a conclusão do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, que se encontra na Praça da República, juntamente com um outro antigo presidente da Liga, então Major José Garcia Marques Godinho (fig. 38).JOSÉ GARCIA MARQUES GODINHO, Major de Infantaria, Presidente da Direcção da Agremiação de Abrantes nos anos 1924/1925 e 1934/1935 (fig. 39).
JOÃO RUIVO DA SILVA, Capitão, combatente da Grande Guerra 1914/1918, filho de José Ruivo da Silva e de Rachel do Carmo e Silva, nasceu a 11 de Agosto de 1890. No livro de quotas existente no Núcleo de Abrantes, aparece referenciado como sócio n.º 135 da Sub-Agência da L.C.G.G. e como tendo falecido em 13/02/68. Durante o seu mandato como presidente da Direcção da Sub-Agência, não esquecendo os objectivos da Liga, promoveu e realizou espectáculos destinados a angariar fundos destinados aos carenciados. Como prova de reconhecimento fez sair no Jornal de Abrantes n.º 1817 de 14 de Julho de 1935, o comunicado :“L.C.G.G. - A Comissão Administrativa da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes, em nome das viúvas e órfãos que aproveitam dos benefícios a prestar com o aumento de fundos obtido pelo espectáculo realizado em 27 do mês findo, vem apresentar o testemunho dos seus agradecimentos, aos grupos cénico e musical que, com tanto trabalho e acerto, levaram a peça á cena, a todas as pessoas que se dignaram honrar o espectáculo com a sua presença e ainda a todas as autoridades civis e militares pelas facilidades concedidas para que a receita fosse máxima.

Sub-Agência de Abrantes, 10 de Julho de 1935
O PRESIDENTE
João Ruivo da Silva
Capitão”
(fig. 40)

CARLOS ANTÓNIO CASACA, Capitão, foi após João Ruivo, Presidente da L.C.G.G. de Abrantes. Do Capitão Casaca, sabe-se apenas ter sido Combatente na Grande Guerra 1914/1918 e vogal efectivo da Comissão Administrativa da C.M.A., tendo tomado posse em 30 de Janeiro de 1930. Nomeado seu Vice-Presidente, exerceu, até ao fim do mandato, as funções de presidente do Município (fig. 41).

MAESTRO HENRIQUE SANTOS E SILVA

Por José Manuel d’Oliveira Vieira
(Artigos Autor publicados Jornal de Alferrarede nºs 262AGO2007 e 268FEV2008 - alterados para blog)


RECUPERAÇÃO DE UM ESPÓLIO

Estavam destinados ao maior arquivo do Concelho de Abrantes, a “lixeira”.
Não tivessem sido resgatados a tempo, documentos considerados importantes na vida do Maestro Henrique dos Santos Silva e “Orfeon Abrantino Pinto Ribeiro” estariam hoje reciclados, prontos para um novo ciclo. Destinado à profissão de relojoeiro, aprendiz aos 20 anos de idade (assim escreveu seu pai num documento de recenseamento em 1920), este cidadão Abrantino cedo dedicou a sua mestria às artes, levando a que a “Cidade Florida”, fosse conhecida dentro e fora das nossas fronteiras.Filho de Alfredo Alves da Silva *, também ele ligado ao “Orfeon Abrantino” e de Delmira da Piedade dos Santos, Henrique dos Santos e Silva, nasceu no dia 18 de Setembro de 1910, na Freguesia de S. João Batista, Concelho de Abrantes. Depois de tanto ter dado à sua terra (06 Janeiro de 1934 até á data da sua morte 30 de Janeiro de 1981), ser recordado numa “Sala Museu” é a melhor forma de perpetuar a sua memória.
Depois de tudo já ter sido escrito e dito do Maestro, quem foi, o que fez, onde actuou, nada mais resta senão justificar a razão porque se escreve mais uma vez deste distinto músico, que durante meio Século foi reconhecido no meio musical do país. João Augusto, sabendo o interesse que tenho por velhos papéis, levou-me ao interior da casa que viu nascer o mestre Henrique. No chão, no meio de jornais sem interesse e em velhos baús apodrecidos pelo tempo, envoltos em muito pó, encontrei um pouco mais da história do “Velho Orfeon” e dos seus bastidores.Documentos e objectos pessoais do Maestro, óculos, caneta e isqueiro personalizados a centenas de partituras e manuscritos sobre o “Orfeon Pinto Ribeiro”, alguns gracejos políticos da vida Abrantina (escritos e impressos) vividos na época, de tudo um pouco foram encontrados.
Das muitas peças recuperadas ao lixo, destacam-se as operetas: “A Herança do Capitão-mor” e o “Milhafre” que ficaram na memória de quem assistiu e actuou no antigo “Orfeon”.
Um “Hino Marcha”, dedicado aos “Combatentes da Grande Guerra de Abrantes” e destinado a realizar fundos para o futuro Monumento aos Mortos da Grande Guerra é outra das peças encontradas. Várias são as partituras especialmente escritas e assinadas pelo Maestro Pinto Ribeiro, em exclusivo para o “Orfeão”.
Programas de espectáculos e recortes de Jornais da época (1929/1936) mostram quanto o Maestro Henrique Santos Silva deu em prol da cultura a esta terra.Num dos livros, onde constam os adereços e material destinado às peças de teatro que se realizavam com assiduidade em Abrantes (Cine Teatro da Misericórdia e Teatro Taborda), fica-se a saber ter existido um cenário com a Praça de Touros de Alferrarede (Quinta do Bom Sucesso), feito pelo pintor Abrantino José Paulo Fernandes Júnior, que provavelmente se encontrava no Teatro Taborda. Não sendo este espólio de desprezar, muito menos será “uma salva de prata do Orfeão Pinto Ribeiro ao Regente H.S.S. do Grupo Coral 6-XII-51”, “uma batuta inteiramente de prata dos “Antigos Orfeonistas do Maestro H.S.S. na reaparição do Orfeão Abrantino Pinto Ribeiro 6-XI-951”, “uma cigarreira de prata personalizada com o nome Henrique”, “uma cigarreira (porta tabaco) de prata personalizada com o monograma HS”, “um porta batuta e batuta de madeira”, “uma batuta de madeira com o punho de prata com a inscrição H.S.S. 25-XII-935”, “duas batutas normais”, lamirés, um “valioso” violino, com etiqueta original do fabricante Italiano “Nicolaus Amatus – Fecit – In Cremona 1646” (ver caixa - "O VIOLINO"), este, o mais eminente membro da família “Amati” (1596-1684), ao qual consta ter tido como aluno, António Stradivarius (1644-1737), o mais célebre construtor de violinos de todos os tempos.De todo este espólio sobressai igualmente, uma profusa e valiosa colecção de discos em vinil, de música clássica, que eram para o Maestro a “menina dos seus olhos”. Mostrando interesse neste espólio (após proposta), a Vereadora da Cultura Dr. Isilda Jana, envidou esforços para que documentos e objectos pessoais do Maestro, dispersos em três locais diferentes, fossem entregues pelos doadores, D. Maria Manuela de Jesus Campos, Maria Fernanda Janeiro, João Augusto e José Manuel d’Oliveira Vieira, o que aconteceu no dia 24 de Janeiro de 2008. De real importância, o espólio agora entregue ao Director da Biblioteca António Botto, Dr. Francisco Lopes – Arquivo Histórico de Abrantes, composto por peças únicas, depois de inventariado e catalogado por pessoal especializado do A.H.C.A. será, apresentado em sessão pública.
Com esta iniciativa, Abrantes que já deu o nome do distinto Maestro Henrique Santos Silva a uma Rua da cidade, verá assim salvaguardada uma parte importante do seu espólio.Além das peças já referenciadas, foi ainda oferecido à Biblioteca de Abrantes, uma colecção de bengalas e dois álbuns “orientais”, com fotos e postais raríssimos, que foram pertença do pai do maestro, Alfredo Alves da Silva, também ele ligado ao “Orfeon Abrantino” como dirigente e coralista durante muitos anos. Álbuns, fotos e postais, referem-se aos anos 1900/1901 e 1905/1907, quando Alfredo Alves da Silva esteve em Macau e França (I Grande Guerra).
Em falta fica a peça que mais gozo dava ao distinto maestro: o Piano.
Devolvido à comunidade, todo este espólio irá servir para comemorar o aniversário do nascimento do Maestro, que se fosse vivo faria 100 anos no dia 18 de Setembro de 2010.
*Numa velha agenda Alemã, Alfredo Alves da Silva (pai do Maestro), descreve relatos diários dos bombardeamentos recíprocos, durante a I Grande Guerra, na fronteira a Norte de Moçambique (Rio Rovuma), entre Portugueses e Alemães. Este diário e cartas, por serem inéditos e escritos por um militar da Guarnição de Abrantes, sócio nº 133 da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes. Em tempo oportuno irão estes relatos de guerra ser publicadas numa página de “COISASD’ABRANTES”.
"O VIOLINO"
Não tocava um violino Stradivarius, no entanto, a forma como o Maestro fazia eclodir o peculiar som ao seu violino “Nicolaus Amatus – Fecit - In Cremona 1646” é descrito assim por A. Santos no "Jornal de Abrantes nº 4884, pág. 7 de 28-3-97":
“Henrique Santos e Silva, como violinista era um executante que pedia meças a qualquer bom profissional. Por isso, foi convidado para primeiro violino da então grande Orquestra da Emissora Nacional. Mas quê, sair de Abrantes? Nem pensar. E assim se perdeu um elemento de grande valor.
Alves Coelho (filho), inspirado e famoso compositor, era um pianista espectacular (despia e vestia o casaco a tocar piano), mas não era um pianista clássico para poder acompanhar correctamente o violinista sério que era Henrique Silva e este dizia-me que nunca se sentira tão envergonhado por causa do acompanhamento que tivera”
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