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IGREJA-ESCOLA-CINE TEATRO S. PEDRO

1943 - Nesta data, subsidiado pela Câmara Municipal de Abrantes, na Igreja de S. Pedro-o-Novo, funcionava um curso comercial nocturno.

1946 - Inicia-se a demolição da Igreja de S. Pedro-o-Novo.

1949 - Demolida a Igreja constroi-se o Teatro S.Pedro. Na inauguração esteve a actriz Amélia Rey Colaço com a peça "Outono em Flor".

1954 - No dia 5 de Outubro, quando a República comemorava 44 anos de vida, Amélia Rey Colaço voltou ao Teatro de S. Pedro com a peça "Prémio Nobel" de Fernando Santos de Almeida, Almeida Amaral e Leitão de Barros.

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"COISASD'ABRANTES" VOLTA EM JANEIRO DE 2011

ABRANTES 11 DE OUTUBRO DE 1891

FESTA DA ÁGUA
Por José Manuel d’Oliveira Vieira
Artigo do autor publicado no "Jornal de Alferrarede" Nº 288OUT2009
Água! A milenar luta dos povos para obtenção de tão precioso líquido não é de hoje.
Devido à sua posição geográfica e à falta de fontes de água potável em quantidade, Abrantes também lutou para superar a secular escassez de água potável que afligia os seus habitantes.
A queda do partido regenerador em 18 de Setembro de 1890, as condições especiais em que o país se encontrava a pretexto dos limites da costa Oriental de África celebrado com a Inglaterra, além de outras dificuldades, quase foram a causa para não haver água canalizada na “Praça Vila” de Abrantes em 1891.

Rua D. Afonso Henriques - Cortejo

Apesar dos atritos e maquinações (próprias da época), foi o deputado regenerador Avelar Machado a conseguir as verbas e o Capitão Engenheiro Monteiro de Lima autor do projecto e fiscal das obras, os principais responsáveis pelo mais importante melhoramento até então realizado em Abrantes na última década do Século XIX.
Para celebrar o acontecimento, no dia 27 de Setembro de 1891, foi divulgado o programa dos festejos a realizar nos dias 10, 11 e 12 de Outubro.

Praça Raimundo José Soeres Mendes

Com bandeiras, galhardetes, escudos, festões, arcos triunfais, muita verdura, apoteoses de flores, tapetes de juncos e de espadanas, tudo profusamente espalhado por todas as ruas e praças da Vila, iluminações colgaduras nas janelas à passagem de cortejos, foguetes, filarmónicas tocando, fogos de artificio, banquetes, etc., no dia 11 de Outubro de 1891, Abrantes inaugurava a chegado do tão precioso liquido à Vila.
Das várias descrições sobre “A FESTA DA ÁGUA”, as que melhor reproduzem o que se passou em 1891 encontram-se no livro “LANÇANDO AO VENTO… No Concelho de Abrantes”, publicado pelo Coronel Joaquim Maria Valente em 1963.
No livro por si editado, apontamentos de duas décadas (1885/1905), o Coronel Valente regista assim os acontecimentos: “Com toda esta lustrosa companhia Joanes Forte sai da fresca Abrantes...”
“É claro que isto da fresca Abrantes no século XVI é aroma de poesia da responsabilidade de Camões, que provavelmente nunca visitou Abrantes, ou se visitou foi em dia de chuva ou então se foi em dia de sol não viu bem, o que não é de admirar visto ele ter sido cego de um olho, não se sabendo todavia se do olho direito se do esquerdo.

Largo Dr. Ramiro Guedes - Coreto

O que é certo é que a que foi Notável Vila, magnifica¬mente situada, sob o ponto de vista da salubridade, na extremidade de uma extensa colina de apreciável altura, bem aquecida pelo sol e varrida pelos ventos em todos os quadrantes, dotada já de uma rede de esgotos domésticos, padecia de um notável e secular flagelo — a escassez de água — sobretudo de água potável, remediado em parte pela existência de cisternas, que armazenavam a água da chuva caída nos telhados dos edifícios.
Tal armazenamento tinha vulto notável nas cisternas do Castelo, reduto de defesa da Vila como antiga praça de guerra.

Praça Barão da Batalha

O abastecimento diário, sobretudo de água potável, da população, era feito principalmente por mulheres, que à cabeça transportavam bilhas com o precioso líquido das fontes de S. José e de Vale de Roubam, existentes na base da colina.
Cada bilha com tal água custava um vintém, equivalente hoje pelos menos a l$20, seja cerca de $08 por litro de água ou 80$00 por metro cúbico, supondo que tivesse a capacidade de 15 litros.
Uma mulher não podia transportar por dia mais de cinco ou seis bilhas.
Tal preço talvez sirva de justificação à secular quadra com que Abrantes fora mimoseada através dos tempos:

Abrantes é mui boa terra
Dá de comer a quem passa,
A quem não leva dinheiro
Nem água lhe dá de graça.

Além das distantes fontes de S. José e de Vale Roubam existiam as fontes de S. Caetano e Fontinha, de água de má qualidade e de pequenos caudais, e a água Chafariz, esta na orla da Vila, mas de água salobra só própria para lavagens e bebidas de animais.
Fica assim justificado o grande júbilo da população da Vila quando o Governo do país resolveu fazer um abundante abastecimento permanente e domiciliário de boa água, por intermédio de verba inscrita no orçamento do Ministério da Guerra, visto que a guarnição militar da Vila era também vítima da escassez da água.
Como tal escassez era secular, e mesmo milenária, só uma acção politica de grande importância poderia modificar a situação e dar realidade à frase de Camões.
Foi Avelar Machado, deputado regenerador pelo círculo de Abrantes, o herói da conquista da verba para as obras, e por isso deram brado na região as festas realizadas na inauguração do novo abastecimento, as chamadas festas da água, de que ele foi merecido alvo principal, porque lá diz o rifão: “quem dá é pai”.

General Avelar Machado

Inauguração Busto General Avelar Machado

A captação de água para dentro da Vila de Abrantes efectuava-se no Vale de Râs e era “conduzida por gravidade para um depósito subterrâneo próximo do local de captação, e elevada depois por bombas accionadas pelo vapor de caldeiras alimentadas a lenha.

Vale de Râs: Bomba elevatória de águas - 1891

Vale de Râs: Bomba elevatória de águas - 1950

Vale de Râs: Local onde estava bomba elevatória de águas - Ano 2010

A conduta de elevação, de ferro fundido com juntas de chumbo, terminava num depósito de alvenaria construído no Castelo, em sítio próximo do parque coberto do material de artilharia, de nome Papa Feijão, mas de cota topográfica um pouco mais elevada que a de tal edifício.

Castelo - Depósito de água (NEG CVD)

Nas praças principais foram instalados marcos fontenários de ferro fundido com torneiras de pistão.
A rede de distribuição era também de ferro fundido, sendo de chumbo os ramais para os edifícios”.
Se o herói da “FESTA DA ÁGUA” foi Avelar Machado, cujo busto foi mais tarde colocado numa das praças de Abrantes, não podemos esquecer Solano de Abreu, um político que militando em partido diferente (1) se associou desde a primeira hora ao evento num gesto de amizade e dedicação ao povo de Abrantes.
(1) – Avelar Machado, Partido Regenerador/Solano de Abreu, Partido Republicano
Datas importantes: Março, 12 de 1890, Câmara Municipal de Abrantes requer ao Governo elaboração do projecto e orçamento para obras e abastecimento público à Vila. Outubro, 25 de 1890 é firmado contrato entre a C.M.A e o Governo para a execução das obras de Abastecimento de água a Abrantes.
Em itálico: Do livro - Lançando ao Vento no Concelho de Abrantes – Coronel Valente – 1885/1905 – Edição do Autor 1963 – páginas 63/64/65/66/67.
Fotos: AHCA, CVD, JALF, JMOV.

O NOSSO CONCELHO - BRAZÕES




ABRANTES

*15 FREGUESIAS RECENCEAMENTO GERAL 1981

*19 FREGUESIAS EM 2010

COISASD'ABRANTES NO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

PEQUENOS PORMENORES QUE FIZERAM A DIFERÊNÇA NA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
5 DE OUTUBRO DE 1910

CISTERNAS DE ABRANTES II

“Em algumas áreas do planeta começa a haver sinais de tensão. A principal causa! Água potável, o “ouro azul” do nosso Século...”
Por José Manuel d’Oliveira Vieira
Artigo autor publicado no "Jornal de Alferrarede" Nº 285JUL2009
Com o advento da água canalizada a Abrantes em 1891, as cisternas desta “Vila” perderam a sua função militar e estratégica.
Esquecidas as funções que desempenharam no passado, as cisternas são hoje um património histórico que urge preservar.
No interior das casas, em jardins e pequenos quintais, em 2009, ainda é possível encontrar na cidade Abrantes, um dos processos mais expeditos de armazenar água.
A contrastar com tão grande número de cisternas, 69 em 1817, 111 em 1856, às não mais de 50/60 em 2009, algumas continuam a servir os abrantinos como o faziam no Século XIX.
A conveniência em possuir estes “poços inactivos” era tão relevante para a comunidade que cento e trinta e sete anos depois (1817/1954), a Câmara Municipal de Abrantes, no dia 6 de Janeiro de 1954, decidiu levar o assunto à assembleia municipal, ficando escrito em acta: “Cisternas – Considerando o número elevado de cisternas existentes na cidade e o benefício que podem prestar no caso de incêndio e falta de água, a Câmara deliberou que os Serviços Técnicos organizem um cadastro dos mesmos, sua localização e capacidade aproximada. Mais deliberou estudar o aproveitamento das águas dos telhados do novo hotel para a cisterna existente no alto de Santo António, largo confinante com o respectivo Hotel”.
Em 2006, aquando da publicação do primeiro artigo sobre “AS CISTERNAS DE ABRANTES I” socorri-me de uma “Planta da Vila de 1856”, com o nome das antigas ruas, para localizar as cisternas.
Na CISTERNAS DE ABRANTES II segue-se o mesmo método: a seguir ao nome das antigas artérias aparece o número de cisternas ai existentes no ano de 1856 e nestas a placa toponímica das actuais ruas.
De todos os contactos efectuados para a realização do presente trabalho, apenas um dos proprietários não autorizou o registo do seu “algibe”.
A requalificação futura do espaço e ser necessário proceder à demolição da cisterna parece ser a causa para manter o local reservado dos olhares públicos.
A não serem tomadas medidas preventivas, muitas das “CISTERNAS DE ABRANTES”, poderão estar irremediavelmente perdidas. O motivo já mencionado, aliado à ruína prematura, poderá fazer desaparecer algumas cisternas e com elas um pouco da história e quotidiano dos abrantinos, até finais do Século XIX.
Das quarenta e cinco cisternas que tivemos o prazer de ver e registar, de realçar o empenho dos proprietários que durante a requalificação dos edifícios, em vez de procederem à destruição das suas cisternas as restauraram e enquadraram nos espaços envolventes.
No interior ou exterior das casas (senhoriais ou não), a ornamentar pequenos jardins ou quintais, recuperadas ou por recuperar, a maioria das cisternas aqui registadas encontra-se a funcionar tal como no tempo em que foram construídas.
“Abrantes, praça de guerra, por vezes sujeita a cercos, o problema da água mereceu, em todos os tempos, aos seus habitantes, ás vereações, aos alcaides mores e aos governos o maior cuidado…muitas cisternas eram cuidadosamente tratadas e prestaram serviços à terra” (Diogo Oleiro)
“CISTERNAS DE ABRANTES I e II” não tratam de um estudo sobre as origens ou métodos de construção destes antiquíssimos métodos de armazenamento de água.
“CISTERNAS DE ABRANTES I e II” apenas pretende sensibilizar proprietários e entidades responsáveis pelo património local, para a recuperação e restauro destas jóias do passado:
CASTELO – sete cisternas
Com o apoio da Arqueóloga da C.M.A, Dr.ª Filomena Gaspar, foi possível localizar as últimas quatro das sete cisternas existentes no Castelo de Abrantes (fig. 1). A cisterna que se vê em primeiro plano à direita, na mesma figura, foi modificada e transformada em paiol de munições pelos militares.
fig.1
PRAÇAS DA PALHA, ROCIO E PROXIMIDADES – onze cisternas
Foi este antigo Convento de S. Domingos durante muitos anos o quartel do RI2. Dado o interesse e a utilidade dada ás cisternas pelos militares a que se encontra à entrada do Parque de Estacionamento do Convento de S. Domingos (fig. 2), escapou à fúria demolidora do progresso.
Além do Convento de S. Domingos, as cisternas que se encontram no Largo Dr. Ramiro Guedes (fig. 3), “Residencial Lírius*** na Praça Barão da Batalha e a que está no jardim desta mesma casa na Travessa do Barata (fig. 4/5) estão englobadas no conjunto das onze cisternas então existentes na Praça da Palha, Rocio e Proximidades.
fig.2
fig.3

fig.4/5
S. VICENTE – três cisternas
Até ser dividida ao meio, S. Vicente começava junto ao Adro velho da Igreja com o mesmo nome até ao actual Largo da Ferraria. Neste espaço onde existiam 3 cisternas, apenas referenciamos duas (fig. 6 e 7).
fig.6
fig.7
RUA DO CHAFARIZ – seis cisternas
Das seis cisternas que existiram em 1856, nesta antiga Rua do Chafariz apenas uma foi detectada. Uma placa de chapa colocada na boca da cisterna com as iniciais: LMP 1906 parece indicar o ano da sua construção (fig. 8).
fig.8
RUA DOS OLEIROS E DA BOGA – nove cisternas
A Rua dos Oleiros e Rua da Boga correspondem hoje á actual Rua Maria de Lurdes Pintassilgo e Condes de Abrantes. Nestas duas ruas existiam nove cisternas. Publicadas que foram duas em 2006, publica-se agora mais três: uma na Rua Condes de Abrantes (fig. 9) e duas na Rua Maria de Lurdes Pintassilgo (fig. 10 e 11). Na Rua Condes de Abrantes, em propriedade do Dr. Silva Tavares sabe-se existir uma cisterna em muito mau estado (não registada neste trabalho).
fig.9

fig.10

fig.11
RUAS DO OUTEIRO E OLARIAS – sete cisternas
Neste conjunto de ruas existiram sete cisternas. Na Rua D. João IV, antiga Olarias Velhas, numa casa sobejamente conhecidas dos Abrantinos, “Casa dos Almadas”, são conhecidas duas cisternas (fig. 12 e 13). Uma encontra-se no interior da mansão (Casa da Cisterna) e outra no jardim do palacete, sendo que uma delas tem origem numa nascente.

fig.12/13

RUA GRANDE – treze cisternas
Era a rua com o maior número de cisternas existentes em Abrantes. Em Julho de 2006 o “Jornal de Alferrarede” publicou uma.
Tivesse sido autorizado o registo de uma cisterna existente na antiga Rua Grande, hoje Santos e Silva e não tivesse sido demolido e transformado em calabouço a cisterna na casa do Comendador Patarroxa, em tempos Escola Industrial e Comercial de Abrantes, mais tarde Policia de Segurança Publica, em vez das duas (fig. 14 e 15), hoje teríamos aqui o registo de quatro cisternas.

fig.14

fig.15

RUA DAS ESTALAGENS E DO CABO – cinco cisternas
Das cinco cisternas existentes na hoje Rua Luís de Camões e Rua Nossa Senhora da Conceição, apenas duas foram inventariadas em 2006.
Obra de requalificação no prédio onde se encontrava um dos algibes mais antigos de Abrantes já não existe. Para memória fica a foto do prédio e de ali ter estado uma cisterna até ao ano de 2007 (fig. 16).
Na Rua Nossa Senhora da Conceição, no edifício mais antigo ai existente, um belo exemplar de cisterna continua a servir a sua proprietária (fig. 17).

fig.16

fig.17

RUA DOS AÇOUTADOS
Na Rua D. Miguel de Almeida, antiga Rua dos Açoutados, uma das mais populosas ruas de Abrantes em 1707, encontram-se duas cisternas (fig. 18 e 19). A cisterna existente no edifício onde em tempos foi a “Pensão Santos”, tem a particularidade de se poder retirar água pela abertura superior e inferior, dado que esta é aberta ao nível inferior da casa.

fig.18

fig.19

RUAS DA BARCA – doze cisternas
A demolição de prédios antigos nas ruas D. Nuno Álvares Pereira e Rua da Barca, poderá ser a origem para o desaparecimento das cinco cisternas que faltam localizar. Além das três publicadas neste jornal em 2006, publicam-se hoje mais quatro: Rua da Barca (fig. 20 e 21). Rua D. Nuno Álvares Pereira (fig. 22 e 23) (b).

fig.20

fig.21

fig.22

fig.23

RUA DE S. PEDRO – quatro cisternas
Rua das Coelheiras em 1301 e Rua de S. Pedro em 1722.
Dos oito moradores que esta rua tinha em 1757, quatro possuíam cisterna, uma das quais publicada na Edição Nº 249 do “Jornal de Alferrarede”.
Das três cisternas em falta, foram referenciadas mais duas, umas das quais se publica neste pequeno trabalho (fig. 24).
Por fotografar fica a cisterna de uma moradia situada entre os edifícios “Carneiro e Diogo Oleiro”, referenciada quando este artigo se encontrava concluído.

fig.24

(a) – Cisternas de Abrantes I, publicado no Jornal de Alferrarede nº 249 de Julho de 2006.
(b) – O estado de ruína em que se encontra a casa da fig. 23 não permitiu fotografar a cisterna ai existente.
(c) – Toponímia Abrantina – Eduardo Campos 1982
AgradecimentoAos proprietários que autorizaram a captação das imagens aqui publicadosdas o meu muito obrigado.

1943 UM ACHADO ARQUEOLÓGICO

“OS PASSOS DA PAIXÃO DE CRISTO”
Por José Manuel d’Oliveira Vieira
Artigo autor publicado no "Jornal de Alferrarede" Nº 284JUN2009
Na década de trinta e quarenta do Século passado, quem conheceu o Adro e a zona envolvente da Igreja de S. João Batista em Abrantes, lembrar-se-á certamente da casa unida à Igreja (fig. 1), das frondosas árvores que se encontravam no Adro (fig. 2) e da escada de acesso à mesma.

fig. 1 - Casa demolida - ano 1939

fig. 2 - Adro da Igreja de S. João - ano 1943

Em Junho de 1939, pelo decreto nº 29671 é cedido à Câmara Municipal de Abrantes o terreno e as ruínas de uma casa contigua à igreja de S. João Batista (…) para alargamento do local onde a mesma igreja está situada, mediante a indemnização para o Estado da quantia de 50$00. As obras ficam concluídas em Agosto (a).
Quatro anos mais tarde, após a demolição da casa que se encontrava pegada à Igreja de S. João, quando se procedia a obras de arranjo do Adro, construção de um novo acesso (fig. 3) e demolição do muro na Rua Carreira dos Cavalos, hoje Rua Henrique Santo Silva, foram postos a descoberto vinte blocos de pedra trabalhadas, bem como algumas moedas antigas.

fig. 3 - Acesso à Igreja S. João - ano 1943

Para surpresa de quem examinou as peças finamente esculpidas na pedra e ignorava o seu paradeiro, depressa concluiu serem parte de um “retábulo que existiu na Capela do Santíssimo Sacramento de S. João” e representam “os Passos da Paixão de Cristo”, dos quais havia noticia mas de que não havia vestígios.
A descoberta destes fragmentos teve lugar no dia 24 de Abril de 1943, sábado de Aleluia e é tudo o que resta do preciosíssimo retábulo onde hoje se encontra o altar da Nossa Senhora do Carmo, na Igreja de S. João Batista (fig.4).

fig. 4 - Altar de Nossa Senhora do Carmo

Provisoriamente foi esta importante descoberta artística guardada no átrio do Definitória da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, transitando mais tarde para o Museu Municipal D. Lopo de Almeida, Igreja de Santa Maria do Castelo.
Sabendo existir uma foto do ano de 1943 onde se podem ver dois dos blocos esculpidos: um com a imagem do nazareno tendo a seus pés a Verónica, com o santo sudário e outro com a imagem da virgem, tendo ao lado S. João Batista – cenas da Paixão de Cristo, quis saber um pouco mais a história desta descoberta.
Num dos depósitos de reserva arqueológica do Museu D. Lopo de Almeida a Dr.ª Filomena Gaspar, arqueóloga da Câmara Municipal de Abrantes mostrou as esculturas que desconhecíamos e explicou o significado das mesmas.
Faltando saber o local exacto da Igreja de S. João Batista onde originalmente esteve o precioso achado, foi num escrito do Dr. Diogo Oleiro, Conservador do Museu D. Lopo de Almeida, de 1943, que encontrei a resposta.
Na falta de uma outra explicação arqueológica, que só os arqueólogos ou historiadores poderão dissertar, achei por bem dar a conhecer o que se sabe sobre as pedras achadas no muro do Adro da Igreja de S. João Batista de Abrantes:
O RETÁBULO/HISTÓRIA
(…)Em 1721, um escritor falando dela (Igreja de S. João) e das suas capelas, dava como existindo no lado do Evangelho a das Almas, do Senhor Jesus, do Santíssimo Sacramento e do mistério da Ressurreição.
Outro escrevendo em 1745 dizia a propósito das capelas do mesmo lado: Da parte do Evangelho está a capela e altar das Almas com um quadro de S. Miguel, de excelente pintura em pano, o qual se pôs há poucos anos, é grande, toma todo o vão da capela e nela tem uma confraria.
O primeiro altar da nave desta parte é de Cristo Crucificado, imagem, grande e esta capela é interior
.
O segundo altar ou capela está à face, é do Santíssimo Sacramento e nele está o Sacrário. O retábulo desta capela é de pedra com todos os Passos da Paixão de Cristo, tudo em figuras de pedra com muita perfeição.
O terceiro altar ou capela é da Ressurreição de Cristo Senhor Nosso, tem a imagem do mesmo Senhor em uma tribuna dourada e tem confraria.
Quer dizer, o autor em 1745 encontrava assim os altares da nave esquerda de S. João.
Em 1943, o altar das Almas apresenta-se modificado(…)

O altar de Cristo Crucificado, na sua capela interior, desapareceu. Em seu lugar fizeram em 1848 o altar que lá está, para o Senhor Jesus do Capítulo, que acabava de ser removido de S. Domingos(...)
O altar do Santíssimo Sacramento, o tal do retábulo de pedra com os Passos da Paixão, em figuras também de pedra com muita perfeição, está transformado no altar da Nossa Senhora do Carmo, de talha, com escudo da Ordem – Diogo Oleiro (b).

Cristo a caminho do Calvário

S. João Evangelista

Começo volta de um arco com uma Torrinha

Sagitário

(a) Cronologia de Abrantes do Século XX, pág. 109 – Eduardo Campos
(b) História Arte Arqueologia XXI – Retábulo do Sacramento de S. João, por Diogo Oleiro - J.A. nº 2208 de 9 de Maio de 1943.

PUBLICIDADE - COMÉRCIO

ALFERRAREDE - ANO 1933
Por José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor artigo publicado "Jornal de Alferrarede" Nº 280FEV2009)
Em 1933, Abrantes realizou um evento denominado de “Semana dos Inválidos do Comércio”. Estes festejos prolongaram-se durante a semana de 11 a 18 de Junho.
A Comissão composta pelos comerciantes Srs. Manuel José Coelho, Jaime Pintassilgo e Francisco Velez elaboraram um programa bastante recheado, sendo o primeiro dia, dedicado à afixação de cartazes e reclames dos comerciantes associados.
Tendo chegado até aos nossos dias alguns exemplares dos programas, publicados pela “Minerva, Ldª – Telefone Nº 77 – Abrantes”, achando profético e interessante o discurso de A. A. Salgueiro, achei por bem dar a conhecer uma parte dessa prédica, bem como a publicidade que os comerciantes de Alferrarede, associados ao evento, mandaram publicar nessa pequena brochura de 1933:
“O Comercio em geral representa a maior força económica, mobilizadora de todas as riquezas de uma nação e em todo o Mundo.
Os seus empregados, os pequenos comerciantes, são os executores da sua grandiosa obra em prol da distribuição d’essas riquezas, mas não são os mais felizes, porque são os primeiros a tombar quando uma crise de negócios ou a concorrência desleal de muitos outros agentes estranhos à classe lhes estancam o seu labor produzindo a falência e a falta de trabalho”
A. A. SALGUEIRO – (1933) (a).

Não havendo uma política de preservação dos meios tradicionais de comércio, devido às leis vigentes, o abandono das antigas mercearias, drogarias, tabernas etc., tal como as conhecemos, tornou-se inevitável. Uma ou outra, lá se adaptou às novas tecnologias e a muito custo vai sobrevivendo, mas incapazes de concorrer com as grandes áreas comerciais.

Para recordar um pouco da história comercial do nosso concelho, fica o discurso discurso profético de A. A. Salgueiro a publicidade desse tempo e algumas fotos de mercearias existentes até à bem pouco tempo (b).
(a) Discurso e publicidade, publicação “Minerva, Ldª. Abrantes” ano 1933.
(b) Fotos de mercearias: “Comércio de Mercearia” de Luís Alves Correia, ano MCMLXIII e “Artes e Tradições de Abrantes” Direcção-Geral da Divulgação, ano 1983 – Terra Livre.

ANÚNCIOS ALFERRAREDE 1933
ANÚNCIOS ALFERRAREDE 1928