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HISTÓRIA MILITAR DE ABRANTES (IV)

Gravura - Manejo do "Pique"
Por José Manuel d’Oliveira Vieira
1807
FEVEREIRO 3: João Marques Ferreira Anes de Oliveira, Capitão-mor de Ordenanças agregado de Abrantes 10.
FEVEREIRO 4: Vicente Manuel Ferreira Anes de Oliveira, Sargento-mor de Ordenanças de Abrantes 10.
NOVEMBRO 24:Esfomeados, a saquear as aldeias, chegaram ao Vale do Tejo (Abrantes), quatro a cinco mil homens na última miséria, fardamentos em franjas, espingardas inutilizadas a servirem de bordões. Comeram, beberam, reuniram-se e partiram para Santarém a toda a pressa 17.
-A partir de Abrantes, Junot publica decreto ordenando a requisição de sapatos para os militares franceses: Ordena-se ao Corregedor de Tomar, ou a quem seu cargo servir de intimar a todos os Juízes de Fora das vilas e aldeias do seu distrito, de fazer entregar ao portador desta ordem, que é Manuel Álvares, todos os sapatos que houver nas terras aonde este se apresentar, para o que vai autorizado e munido das competentes ordens.
Quartel-General de Abrantes, 24 de Novembro de 1807 - Junot
Nota: Os particulares são todos compreendidos nesta requisição
DEZEMBRO 8: Ofício da Câmara de Abrantes para um desembargador sobre abastecimentos 11.
DEZEMBRO 23: Em consequência do Decreto de Napoleão, Junot determina contribuição de Guerra a Portugal 18.
 
Decreto 23 Dezembro 1807 – Contribuição de Guerra
(Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro)
Tradução Art.º 23º. O General em Chefe, querendo indemnizar os infelizes habitantes da província da Beira do que têm sofrido pela passagem dos exércitos, ordena que as vilas, lugares e aldeias compreendidas entre o Tejo e a estrada de Salvaterra, Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Sobreira Formosa e Vila de Rei, inclusivamente até ao Zêzere, a exceção de Abrantes, serão isentas dos dois primeiros terços da primeira contribuição e da imposição compreendida no Art.º 21º.
As vilas, lugares e aldeias próximas a estrada de Lisboa, desde Abrantes inclusivamente, até Sacavem  inclusivamente, sejam isentas da imposição compreendida no Art.º 21º
 Junot
DEZEMBRO 26: Câmara de Abrantes para os governadores do Reino acerca da opressão na Vila pelas tropas francesas 11.
-Até 1827 a Ermida do Socorro, situada no Largo da Misericórdia e Rua do Socorro serviu de depósito de munições de guerra ao exército invasor e durante a Guerra Peninsular.
1808
-Cartografia da Vila de Abrantes: Mapa militar de arredores e Vila de Abrantes com o acampamento das tropas portuguesas e inglesas (AHM).
Janeiro 4/14: Conde de Sampaio para os Juízes, vereadores e mais oficiais da comarca de Abrantes sobre hospitais militares e abastecimentos das tropas francesas, espanholas e suíças 11.
JANEIRO 16: Tratamento de doentes franceses no Hospital Militar de Abrantes 11. MARÇO: Junot é feito duque de Abrantes.
MARÇO 21: Cento e vinte marcos e sete onças, que  tudo somma em a quantia de cento e quarenta e uma moedas e um tostão é o valor do peso da prata da egreja das religiosas da Graça, da villa d’Abrantes, pesado e remetido pelo Provedor Fr. António Gomes a Junot como Contribuição de Guerra (ver contribuição de guerra - Ano 1807 Dezembro 23). 
AGOSTO 7: As forças do general Loison atravessam o Tejo dirigindo-se para Abrantes 19.
Louis Henri Loison
AGOSTO 9: O general Louis Henri Loison ocupa militarmente Abrantes.
AGOSTO 11: De partida para Tomar, Loison deixa de guarnição em Abrantes 200 soldados franceses, armados de fuzis e baionetas.
Agosto 12: Ficaram 2600 homens com Wellesley e o resto veio com Manuel Correia de Lacerda conquistar Abrantes e restabelecer as comunicações entre o norte e o sul do Tejo 17.
Agosto 17:Combate para a libertação de Abrantes cuja guarnição francesa foi forçada a render-se perante o ataque do Capitão Manuel de Castro Correia de Lacerda, com soldados do Regimento de Infantaria Nº 24, ordenanças e paisanos 8.
Assinatura: Manuel de Castro Correia de Lacerda
ATAQUE DE LACERDA À GUARNIÇÃO FRANCESA EM ABRANTES:
  • Às 6 da manhã, quando já havia pouco (+ ou -) 300 ordenanças armados de chuços e cerca de 16 fuzis, Lacerda pôs-se em marcha para o ponto de reunião (Rio de Moinhos/Abrançalha). Com esta ação, das povoações mais distantes, na manhã do dia 17 começaram a juntar-se às tropas de Lacerda outras ordenanças que à noite seriam (+ ou -) 4.000 a 5.000 homens.
  •  Franceses (P)risioneiros e (M)ortos até 20 de Agosto: (P) 121, (M) 73.
  • Durante os combates pela conquista da Praça de Abrantes não houve mortos nem feridos portugueses.
  • Material apressado no Rio Tejo dia 17 pelo Tenente António Joaquim Henrique de Paiva: dois (2) barcos de trigo, seis (6) fardos de roupa e a botica.
  • Além do material pertencente ao Franceses que se encontravam no armazém das comissões, as tropas de Manuel de Castro Correia de Lacerda apreenderam toda a secretaria do Corregedor Mor da Estremadura com o governo Francês, muitas armas e toda a Cavalaria.
-O Comandante Lacerda, vereadores, oficiais, clero, nobreza e povo prestaram juramento à Suprema Junta do Porto, mandaram descobrir as armas e içar a bandeira real 20.
SETEMBRO 19: Gaspar Pessoa Tavares de Amorim, encarregado das pontes de Abrantes e Punhete 11.
DEZEMBRO 11: “Levantamento em Massa” da Nação portuguesa. Com armas rudimentares, foices, machados, roçadoras, martelos, facas, varapaus, “PIQUES” etc., o povo arma-se. Foi assim noutras localidades e terá sido assim certamente com a população de Abrantes, onde foi encontrado um “Pique” (Ver anexo A).
1809
-Cartografia da Vila de Abrantes: Planta topográfica do contorno de Abrantes e seu terreno adjacente – Manuel Sousa Ramos -1809/1812 - (435-1-1-1).
JANEIRO 12: Relação assinada por Manuel Ribeiro de Araújo, do Arsenal do Exército para Miguel Pereira Forjaz, quantificando-se as munições que foram remetidas para Santarém e Abrantes de 29 de Dezembro de 1808 a 7 de Janeiro de 1809. Para Abrantes, foram enviados 493 cartuchos com bala para peças de campanha de calibre 3 e 162 lanternetas para o mesmo calibre, assim como 680 espoletas de escorva. Para as tropas de infantaria remeteram-se 255800 cartuchos com bala, 73480 cartuchos para clavina (de cavalaria) e 55580 cartuchos para espingardas de ordenanças. A acompanhar as munições foram também 20000 pederneiras para espingardas, 20000 para clavina e 3000 para pistola. Neste documento aparecia lateralmente a referência a 25 barcos que pensamos serem pequenas embarcações que subiram o Tejo até Santarém e Abrantes para levar as munições 21.
-No edifício Convento de S. Domingos foram instalados dois regimentos de milícias.
-Entre 1809 e 1820, Beresford foi o comandante em chefe do Exército Português, tendo quartel-general em Abrantes. Durante este período, a insatisfação do militar português cresceu na exata proporção das promoções e regalias em detrimento dos britânicos. Assim, quando alguém perguntava como iam as coisas no Exército a resposta era sintomática: «tudo como dantes, quartel-general em Abrantes» 22.
-Guarnição de Abrantes: Regimento de Infantaria Nº 22 (Convento de Santo António), um forte destacamento de Artilharia nº 9 (Castelo). Regimentos de Milícias de Arouca/Lousã/Santarém/Soure/Tomar, Ordenanças da Vila e um Destacamento do Real Corpo de Engenheiros. As Baterias do Castelo, vários fortes e baluartes eram guarnecidos com 119 peças de grosso calibre, 12 obuses e 9 morteiros. Os regimentos de milícias ordenanças e engenheiros trabalhavam nas obras de fortificação. Cada um dos regimentos de milícias permanecia 8 dias no Castelo, rendendo-se.
Beresford
-Invasão de Soult: Mayne estava encarregado da defesa da ponte de Alcântara, em Espanha. A sua retaguarda estava em Abrantes e proximidades, constituída por uma coluna de 12000 homens portugueses de infantaria/cavalaria e artilharia (4 brigadas) comandadas por MacKenzie 8.
Soult
Fevereiro 16: Infantaria 14.
MARÇO 24 a DEZEMBRO 20: O governador da Praça de Abrantes, Manuel de Sousa Ramos, troca correspondência com D. Miguel Pereira Forjaz sobre a logística, arsenais, pontes, delitos, embarcações, fortificações e obras 11.
ABRIL 21: Por ordem do Marechal Beresford, procura-se no arquivo militar, a existência de algum plano de fortificação da Vila de Abrantes 11.
-Munições e forragens enviadas para Abrantes 11.
MAIO 15: Major General John Randoll Mackenzie entrou em Abrantes com a sua Reserva e parte das forças portuguesas que vigiavam o Tejo marchou para Sobreira Formosa para defender a passagem das Talhadas.
JUNHO 12: Marechal Beresford, comandante em chefe do exército acha exorbitante a soma que se tem pago às milícias que trabalham nas fortificações de Abrantes e determina o pagamento de dois vinténs a todos os soldados como trabalhadores e aos artífices, pedreiros e carpinteiros, quatro vinténs 23.
JUNHO 14: Duque de Wellington queixa-se do estado lastimável em que se encontra o quartel da Praça de Abrantes 11.
Junho 17: Arthur Wellesley que não podia alcançar o Exército de Soult veio para o sul para proteger o Alentejo de qualquer invasão, estando em Abrantes a 17 de Junho de 1809 17.
NOVEMBRO 16: D. Miguel Pereira Forjaz, para Joaquim da Costa e Silva sobre avaliação, pagamento das casas velhas da fortificação de Abrantes e demolição pelo Capitão Patton do Real Corpo de Engenheiros 11.
Dezembro 16: Abrantes foi classificada praça de guerra de 1ª ordem e nomeado Governador o Marechal de Campo João Lopes de Sousa.
-Desde o final de 1809, desenvolve-se em Portugal a construção de um conjunto de linhas telegráficas pertencentes a duas redes de comunicações distintas: as linhas de Lisboa a Almeida e os ramais para Elvas e Abrantes, pertencentes à rede portuguesa (telégrafo de persianas ou palhetas - Ciera) e as linhas do sistema de comunicações de Torres Vedras, pertencentes à rede inglesa (balões).
(Sobre o sistema do telégrafo português inventado por Ciera, instalado no Castelo de Abrantes – ver anexo A: “Abrantes Militar – CAPITULO V – ANO 1810, a publicar no próximo mês”).
DEZEMBRO 25: Duque de Wellington determina ao ministro e secretário de Estado dos Negócios da Guerra para estabelecer correio diário entre Elvas e Abrantes 11.
Duque de Wellington

8 Vid. História do Exército Português, do General Ferreira Martins, a fls. 227/244.
10 Nuno Gonçalo Pereira Borrego – Ordenanças e Milícias de Portugal.
11AHM. 
17 As três invasões francesas, Guerra da Independência por Marcelino Mesquita – Biblioteca do Povo, Vol. I pág. 19/20/54.
18 Decreto 23 Dezembro 1807 – Contribuição de Guerra - Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro
19 Da Crise do Antigo Regime à Revolução Liberal 1799-1820” - Fernando de Castro Brandão - Ano 2005.
20 Relação da Tomada de Abrantes no dia 17 de Agosto de 1808.
21Ordem do Dia de 18 de Abril de 1809.
22 Jornal do Exército – Julho 2010.
23 Ordens do Exército – 1809/1858 - Art.º 2015.

Anexo A
“PIQUE” – ANO 1808
            Na eminência de uma nova invasão francesa, sem um exército organizado, com as milícias e ordenanças em casa desarmadas, em 11 de dezembro de 1808 foi determinado  o “Levantamento em Massa” da Nação portuguesa.
            Com armas rudimentares, foices, machados, roçadoras, martelos, facas, varapaus, “PIQUES” etc., o povo arma-se.
            Foi assim noutras localidades e terá sido assim certamente com a população de Abrantes.
            Porquê recuar no tempo e falar de um real decreto de 1808 que manda o povo recorrer às armas?
            Há tempos, quando procurava uns velhos papéis relacionados com a antiga história militar de Abrantes, foi-me oferecido um pequeno objeto de ferro como sendo uma “arma medieval”, usado pela infantaria europeia contra a cavalaria inimiga até meados do século XVII.
             Na verdade, depois de observar alguns modelos de armas utilizadas a partir de meados de 1808, conclui estar perante um “PIQUE”, arma utilizada pela população portuguesa para repelir o exército regular francês.
            Terá algum camponês, pescador, serralheiro, milícia ou ordenança da então Vila de Abrantes utilizado este “PIQUE”? Não havendo essa certeza, fica no entanto para a história de “Abrantes Militar” o registo de ter sido encontrado em Abrantes um “PIQUE” (FIG.1A/B) que muito provavelmente terá pertencido a um miliciano ou ordenança de Abrantes.
            Para uma melhor compreensão do que é um “PIQUE”, transcreve-se excerto do Decreto de 11 de dezembro de 1808 que determina o armamento geral da população portuguesa:
“Sendo a defesa da pátria o primeiro dever que a honra, a razão e a mesma natureza impõem a todos os homens quando uma nação barbara, desprezando os direitos mais sagrados que no mundo se conhecem, intenta reduzi-los à escravidão, roubando as suas propriedades, destruindo a sua religião, violando os templos e cometendo as maiores atrocidades que a perversidade dos costumes e a inumanidade pode fazer imaginar; e achando-se infelizmente Portugal ameaçado de sofrer todos estes males, sem que tenham os seus habitantes outro algum meio de evitar os horrores a que se veem expostos, que não seja o de recorrer às armas para repelir pela força as perversas, sinistras, as odiosas intenções dos seus inimigos: sou servido determinar:
Toda a Nação Portuguesa se arme pelo modo a que cada um for possível: que todos os homens, que se acharem compreendidos na idade de quinze até sessenta anos, sem exceção de pessoa, ou classe, tenham uma espingarda, ou pique com ponta de ferro de doze a treze palmos de comprido, e todas as mais armas que as suas possibilidades permitirem.
"Pique propriedade do autor"

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