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HISTÓRIA MILITAR DE ABRANTES (VIII)


Por José Manuel d’Oliveira Vieira
1813
-Nesta data, continuam por apurar os prejuízos pelas destruições, roubos e perdas feitas em Abrantes durante 1809 pelas tropas das três nações aliadas11
Nota: Nestes documentos é notada a destruição das três pontes, principalmente as de Vila Velha e Punhete para evitar a passagem dos Franceses à margem Sul do Tejo.
JANEIRO 6: Na sequência do Aviso 20 de Dezembro 1812, do Porto de Abrantes, ficam ao serviço do Exército Português:
-1ª Brigada - 2 varinos*, 4 batéis** e 4 aveiros***.
-2ª Brigada – 2 lanchas, 5 bateis e 3 aveiros.
-3ª Brigada – 5 bateis, 1 barca e 1 aveiro.
Nota: O nº do barco, a lotação e nome dos arraes, constam nas requisições11
*Embarcação  de transporte de carga no Tejo. Casco bojudo, pesado, de 20 a 25 metros, como uma fragata. Tinha um latino quadrangular e uma ou duas velas de estai apoiadas numa vela que apontava ligeiramente à ré.
**Pequena embarcação por causa de seu tamanho é quase sempre possível sua passagem em locais pequenos.
***Embarcações de pequeno calado para o transporte de carga vária (lenha, peixe, produtos alimentares e roupa para as lavadeiras. Embarcações baixas, estreitas, compridas e de fundo chato, as bateiras tinham proa e popa em bico curvado, com propulsão à vara, à vela ou à sirga e eram tripuladas geralmente por dois ou três homens.
JANEIRO 13: João Lobo Brandão, Governador da Praça dá instruções para as forças militares destacadas na prevenção ao banditismo, prenderem todos os salteadores, ladrões, desertores, vadios e contrabandistas que se encontrem em acção11
JANEIRO 18: João Lobo Brandão de Almeida Moço Fidalgo da Caza de S. A. R. Cavalleiro da Ordem de Malta Brigadeiro dos Reaes Exercitos, Governador da Praça de Abrantes, atesta que Manuel José Raposo de Carvalho, por impedimento de José Henriques de Carvalho, Capitão de Ordenanças, está servindo no cargo que é de seu pai como Correio Assistentea.
Nota: A proposta do Capitão de Ordenanças, José Henriques de Carvalho a favor de seu filho para o substituir como Correio Assistente de Abrantes é feita no dia 5 de Março do corrente ano. (adoc. 3362/3363 atestado de João Lobo Brandão de Almeida da Fundação Portuguesa de Comunicação)
Nota: Sobre o Correio militar de Abrantes “Correio do Reino 1808/1817” – ver:

Doc. 3362/3363 Fundação Portuguesa de Comunicação
JANEIRO 22: De regresso a Espanha, passa por Abrantes o duque Wellingtonb.
MARÇO 27: João Marques Ferreira Anes de Oliveira, Capitão-mor de Ordenanças, que vagou pela reforma de Álvaro Soares de Castro Ataíde (Abt)
ABRIL 15: Joze Gonzalez Bobela, Fisico Mor do Exército, em serviço no Hospital Militar de Abrantes, refere a falta de asseio, a pouca ventilação e os castigos de Plancha, para as moléstias que ocorrem em maior número nas prisões da Praça. No mesmo documento é referido: …Seria ao meu modo de ver mui vantajoso q. houvesse huma grande e aturada Policia sobre as Cadeias publicas, e q. se possível fosse de huma vez se banisse o castigo de Plancha sendo substituído p. outro mais ou menos doloroso porem menos mortífero11 

Nota: “Plancha” castigo corporal que consistia dar vinte, trinta ou cinquenta pancadas com a espada de prancha. Este castigo viria a ser abolido no exército do continente do reino, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas com a Ordem Nº 53 de 11 de Novembro de 1856 - “Carta de Lei de 14 de Julho de 1856”AG.
ABRIL 16: Em “ORDEM DO DIA”, Marechal Beresford dá conhecimento de que o Comandante de Artilharia Nº3 da Praça de Abrantes fica debaixo das “Ordens do Governador da mesma Praça”AG
ABRIL 24: Para conduzir munições que o governo português precisava ter em alguns portos do alto Tejo, Anastácio Joaquim Rodrigues, Tenente Coronel do Real Corpo de Engenheiros, foi pela Portaria de 24 Abril de 1813 encarregado de cortar embaraços de navegação e abrir caminhos de sirga, desde Abrantes até EspanhaAG
Nota: Já em 4 de Junho de 1812, Anastácio Joaquim Rodrigues tinha sido encarregado de fazer o reconhecimento do Tejo até “Malpica”.
Sobre a navegabilidade do Rio Tejo – ver “Anexo A” - Abrantes no Centro da Navegabilidade do Rio Tejo.
JUNHO: António de Sá Pereira, Capitão de Ordenanças, de que era Alferes, da Freguesia de S. Vicente, que vagou por morte de Luís Manuel Ferreira Frade (Abt)
JULHO 1: Capitão Engenheiro Charles Vedekind, remete a António de Lemos Pereira de Lacerda pª intelligencia do Exmº Snr. Marechal Conde de Trancoz, a incluza parte mensal dos Progressos feitos nas Obras d’esta Praça (Abrantes) e junto a mappa diário do Numero de Presos sentenciados que n’elles tem sido empregados no mes de Junho passado11
JULHO 9: Nesta Praça o Regimento de Cavalaria Nº 8 comandado pelo Coronel José Pereira de Lacerda11.  
JULHO 14/15: Gaspar António de Sá Sarmento, Tenente do 9º Regimento de Cavalaria e Comandante do Depósito de Convalescente de Abrantes, refere ao Governador da Praça a falta de géneros e dinheiro para pagamento de “Pret”*, que já vai em três meses de atraso. Para o rancho (duas vezes por dia) e pagamento às praças recorre a dinheiro próprio e a amigos11
*Assim se denominava o pagamento a uma praça, referido ocasionalmente pelo termo arcaico: praça de pret. 
JULHO 26: Por constar que as estradas entre Niza e Gavião estão infestadas de guerrilhas/ salteadores, António de Azevedo Coutinho, Comandante do Regimento de Cavalaria Nº 2, destaca um Destacamento de Cavalaria para ficar à disposição do Governador da Praça de Abrantes11
AGOSTO 4: Para encontrar salteadores que assolam vários distritos, pontes e passagens do Tejo são guardadas por destacamentos militares11
AGOSTO 10: Para os sentenciados da Praça de Abrantes, sujeitos a vários trabalhos, Governador da Praça solicita a D. Miguel Pereira Forjaz que o Arsenal Real lhe envie 250 fardamentos completos, 380 camisas, sapatos e barretes de polícia. Para colmatar a falta de vestuário, Brandão de Almeida manda distribuir 100 fardamentos da polícia aos sentenciados11
AGOSTO 19:Por motivos de saúde e a conselho médico vai a banhos o Governador da Praça João Lobo Brandão de Almeida. Durante a licença de dois meses fica no Governo da Praça o Coronel de Artilharia Caetano António d’Almeida11
SETEMBRO 3/4: José Pereira de Lacerda refere a Manuel de Brito Mouzinho, os oficiais mortos e feridos em combate do Regimento de Cavalaria Nº 5/811
OUTUBRO 17: Por não pertencerem ao Depósito de Convalescentes de Abrantes, são deslocados para Mafra militares do Regimento de Cavalaria Nº 511:
-1 Sargento
-1 Anspeçado
-12 Soldados
OUTUBRO: Durante todo o mês, no Hospital Militar de S. Domingos - Abrantes, faleceram 19 doentes (12 estropiados de marchas e 7 prisioneiros franceses).
NOVEMBRO 6: Quatro carpinteiro vindos de Lamego, requisitados pelo Engenheiro Manuel Sousa Ramos e destinados a obras de fortificação em Abrantes reabre uma guerra já antiga entre o Inspector e Fiscal das Obras Militares, Coronel Duarte José Fava, só apaziguada pelo  Marechal Beresford que se encontra com o seu Quartel General em Errazu (Espanha)11
NOVEMBRO 8: Por se acharem 430 presos sentenciados na Praça de Abrantes, o Governador solicita ao Ministro da Guerra mais 300 fardamentos completos para fazer face ao rigoroso frio do inverno e a falta dos mesmos ser prejudicial a saude daquelles miseraveis e estado da nudez em que se achão11. 
Nota: Sobre higiene na Cadeia do Castelo de Abrantes – ver “Anexo B” - UMA LATRINA NO PRESÍDIO MILITAR DE ABRANTES!
NOVEMBRO 25: Do seu Quartel General em Ustaritz, Beresford propõe que as reservas da Praça de Abrantes passem de quatro para dois meses11
Na mesma data: Brandão de Almeida, Governador da Praça, não aceita a ordem de Jozé Simoens de Carvalho, Assistente Deputado do Commissario em Chefe, até ser anunciado por via competente a troca da ração diária de vinho por arroz. A ração diária de vinho aos militares encontra-se registada pelo regulamento de 1812 e Leis do Comissariado11
NOVEMBRO/DEZEMBRO: A dar conta das obras a decorrer na fortificação da Praça, reduto de Santo António, Forte de S. Pedro e Castelo de Abrantes, Capitão Engenheiro Charles Wedekind, continua a enviar mensalmente ao Marechal Beresford e António Pereira de Lacerda os progressos realizados nesta Praça. Entre civis, militares e sentenciados trabalham 316 homens11.
Nota: Parte dos documentos do Capitão Wedekind para Beresford encontram-se escritos em Inglês.

Reduto de Santo António
Forte de S. Pedro (veja-se os fossos em redor do mesmo)
DEZEMBRO 7: Memória sobre o estado do Convento da Esperança do Coronel de Artilharia Caetano António de Almeida, Comandante da Praça e Depósitos de Abrantes: Sendo a Igreja do Convento das Freiras da Esperança hum dos melhores Depozitos desta Praça, e achando-se ocupada com algum trem de Artilharia e outros géneros he da maior necessidade o cuidar-se no concerto do telhado ; porque esta ameaçando evidente ruina, e do seu abatimento pode resultar a perda de tudo qunto se acha dentro da dita Igreja; e podem taobem poder ser as prizoens dos prezos sentenciados que lhe estão unidas.
Apareceo detraz da Capela Mor hum buraco capaz de caber hum homem; procedido de hum pedaço de caliço que há pouco tempo cahio. Este edeficio merece ser reparado; por que elle he hum Armazem, que pode conter muitos mantimento e ser aplicada para outros fins. O que nele se acha pertinente a Artilharia, pode acomodar-se em hum armazém mais pequeno. Julgo que a despeza não será muito grande, atendendo a que poderão approveitar algumas madeiras, que estejam ainda em bom estado11
Convento da Esperança
 (fotos M.M.)

AHM
DEZEMBRO 9: Devido à não renovação e venda pública de “guias de trânsito/marcha” utilizam-se “guias manuscritas” não aceites pelas entidades, dificultando alimentação aos militares que chegam a esta Praça com fome11.
DEZEMBRO: Em Abrantes Regimento de Infantaria Nº 20MH
ANEXOS A e B
ANEXO  “A”
ABRANTES
NO CENTRO DA NAVEGABILIDADE DO RIO TEJO (1529/1849)
Por José Manuel d’Oliveira Vieira
Nem sempre os interesses agrícolas e comerciais estiveram na origem da navegabilidade do Rio Tejo…
            
O projeto de fazer navegável o Rio Tejo teve início em 1529 com o Imperador Carlos V. No entanto, foi Filipe II de Espanha em 1580 a dar continuidade ao projeto para minorar os gastos acrescidos com o transporte via terrestre de “tropas, equipamentos pesados, víveres y municiones para la conquista de Portugal.
            Encarregue de estudar e fazer navegável o Rio Tejo, Espanha/Abrantes, esteve o célebre arquiteto hidráulico Juan Baptista Antonelli, que a mando do monarca espanhol fez testes no Rio Tejo, navegando as 24 léguas que vão de Alcântara até à Vila de Abrantes e desta até Toledo (1581/1582).
            A expedição, Abrantes-Alcântara, protagonizada por Antonelli, embarcándose en un barco pequeño con hombres prácticos de la tierra y del río (remeiros portugueses), teve a aprovação real, dada em Tomar a primero de abril de 1581 años.
            Por ordem régia, em 1587 se fizerem em Toledo seis barcas e no ano seguinte, sob o comando de Christovão de Roda, sobrinho de Antonelli, desceram o Rio Tejo até Lisboa, percurso realizado em quinze dias, sem o menor prejuízo.         
            Em 1588 e 1589 novas expedições se repetiram com êxito, conduzindo-se por água até Lisboa grande quantidade de trigo e outros géneros.
            Por morte de Antonelli (15-3-1588), tratou o rei com André de Udias o que faltava na navegação do Tejo para as subsequentes expedições, pelo que certos barqueiro de Abrantes se obrigaram a vir pelo rio desde a mesma villa até à cidade de Toledo em quarenta dias.
            Por ocasião da nossa Guerra da Independência (1640/1641) contra Filipe IV, quis este monarca renovar a comunicação pelo Rio Tejo para o transporte de munições de guerra até à fronteira portuguesa. Porém, os planos elaborados pelos engenheiros espanhóis Carduchi e Martelli, nunca foram executados.

Fig. 1
                 Em 1812/1813, depois de ter examinado o Rio Tejo desde Abrantes até Espanha, o português Anastácio Joaquim Rodrigues, Tenente Coronel do Real Corpo de Engenheiros, Lente da Academia Real de Fortificação e Sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa, por Portaria de 24 de Abril, foi encarregue de destruir alguns obstáculos que se apresentavam à navegação do Tejo e abrir os caminhos de “sirga”, não por motivos comerciais, mas devido à necessidade de conduzir munições que o governo portuguez precisava ter em alguns portos do alto Tejo.
            Em Abril e Outubro de 1829, cabe a vez ao arquiteto espanhol Marco-Artu fazer novo reconhecimento (Espanha/Lisboa) numa barca a que deu o nome de “Antonelli” e (Lisboa/Espanha), com mais uma barca construída em Lisboa a que deu o nome de “Tejo”.
            Após um interregno de 37 anos, por carta de lei de 9 de julho de1849, com rubrica da Rainha Dona Maria, foi autorizado a superintendência dos melhoramentos do Tejo, gastando o governo a importância de 10:000$000, não só para os trabalhos da demarcação do alveo do Tejo, na parte que decorre de Vallada até Abrantes, como tambem nas obras de quebramento de rochedos, da desobstrução do alveo do mesmo rio e da construção de caminhos de sirga ao longo das suas margens, na parte que decorre de Abrantes até Villa Velha.

Fig. 2
            Em data desconhecida, o espanhol D. Manuel Martinini, residente em “Punhete”, hoje Constância, preparou uma memória para a canalização do Rio Tejo.
            O projeto “Sobre a Canalização do rio Tejo”, Abrantes/Valladas e Abrantes/Vila Velha, apresentado por D. Manuel Martinini a “S.M.I. o Duque de Bragança Regente em nome da Rainha D. Maria Segunda”, poderá ter estado na origem das cortes gerais decretarem a lei de 9 de Julho de 1849, com o detalhe dos trabalhos a realizar no Rio Tejo.
            A “Memória” de D. Manuel Martinini além de referir grande parte dos trabalhos a que se refere a lei de 9 de Julho, incorpora ainda 11 mapas de pequena grandeza (2 a 3 legoas cada = 10 a 15 Km) que vão do Rio Sever até à Vala de Alpiarça. Dessa “Memória” se publicam três mapas das partes do Rio Tejo a melhorar desde a Ortiga até à Ribeira de Tancos (Ver figuras - EF/GH, GH/IK e IK/LM).
            Os mapas que acompanham a extensa e detalhada exposição de D. Manuel Martinini ao Duque de Bragança, são um retrato do Rio Tejo da primeira metade do século XIX: os cachões, as cascalheiras, os moinhos, o local onde as barcas faziam o transporte de pessoas e mercadorias de uma para a outra margem, as povoações, a profundidade do rio em toda a sua extensão, bem como os caminhos de “sirga” no Caxão do Rebete (Ortiga) e Caxão d’Alfacira (Alvega) etc…
            No percurso que realizei no dia 4 de Setembro de 2011, do Cachão do Rebete (Ortiga) até ao Cachão d’Alfacira (Alvega) e deste até Abrantes, utilizei os velhos mapas de D. Manuel Martinini.
            Percorrer por via fluvial Abrantes/Ortiga/Abrantes, ver as ruinas dos velhos “moinhos”, os “cachões”, o local dos caminhos de “sirga”, atravessar as “cascalheiras” e o “canal filipino de Alfacira=Alfanzira”, além de ser um agradável passeio, proporciona ao visitante uma inesquecível lição de história.
           
                                              EF/GH                                       GH/IK                                         
IK/LM
             Com os engenheiros portugueses, Manuel Caetano de Sousa, Izidro Paulo Pereira e Manuel de Sousa Ramos, as obras no Rio Tejo foram pouco significativas, ficando as mesmas por simples limpezas de valas, reparação de cômoros, plantações de salgueiros destinados a fixar as margens do rio, os quais ainda podemos ver em quantidade, desde a Ortiga até Abrantes.
            Ao longo dos séculos os soberanos de Espanha e Portugal dedicaram sempre grande atenção à navegabilidade do Rio Tejo, tendo promovido várias iniciativas que tinham por objectivo melhorar as condições da navegação no rio.
            Apesar dos muitos projectos, obras, ensaios e gastos na tentativa de fazer navegável o Rio Tejo de Espanha (Alcântara/Toledo) até Abrantes e desta até Lisboa, já com o Tejo comercialmente navegável, todas as diligências ficaram na mesa dos projectos e ensaios. 
            “Abrantes no Centro da Navegabilidade do Rio Tejo” é uma síntese cronológica com base na vasta literatura disponível sobre o maior rio de Portugal e em que o nome de “Abrantes” aparece como centro de todos os projectos para tornar o Tejo navegável, verdadeira via de comunicação com importância económica e militar entre dois reinos.
            A ter-se realizado tão ambicioso empreendimento, incomparavelmente de maior interesse para as províncias centrais da Espanha poderem exportar seus produtos, teria Portugal recuperado a Praça de Olivença? 
            Na “Revista Literária - Periódico de Literatura, Filosofia, Viagens, Ciências e Belas Artes – Ano 1839”, o autor do artigo “Navegação do Rio Tejo” questiona: Assim se a Hespanha interessa na conclusão desta empresa, ella deve dar a Portugal alguma concessão, com que este paiz s’indemnise do desapossamento d’uma prerrogativa natural, qual é a de abrir á Hespanha uma porta que pode ter-lhe fechado sempre, e que aberta pode dar-lhe vantagens mui valiosas. A reclamação do terrotório d’Olivença é objecto, que por tal ocasião não devêra esquecer.
       
Fig. 1 - Planta:Perfil longitudinal do Rio Tejo desde a testa do Cachão da Aroeira até em frente do Hydrometro d'Abrantes 56,50x146,00 cm. Estudos chorographicos, phisicos e hidrographicos da bacia do Tejo comprehendida no Reino de Portugal de GUERRA, Manuel José Júlio, 1801-1869.
Fig. 2/EF-GH/ GH-IK/ IK-LM - Boletim Cultural Nº 15 de Outubro de 1991” da Câmara Municipal de Tomar, artigo de Maria João Mendes de Castro.
Bibliografia e referências
SILVA, Joaquim Candeias, Abrantes. A vila e seu termo no tempo dos Filipes (1580-1640); Jornal de Coimbra Nº XVII - Ano 1813; Biblioteca Española, Económica-Politica por D. Juan Sempere y Guarinos - Ano 1801; Navegación fluvial e ingeniería militar en España, siglos XVI-XVII, de Pérez de Oliva y Antonelli, a Leonardo Torriani y Luis Carduchi - Diego SUÁREZ QUEVEDO; Panorama, Volume 3 - Ano 1839; Estudos Chorographicos, Physicos e Hydrographicos da Bacia do Rio Tejo - Ano 1861; Revista Literária – Ano 1839; MARTININI, D. Manuel, Memória Sobre a Canalização do Rio Tejo - Boletim Cultural Nº 15 de Outubro - Ano 1991” da Câmara Municipal de Tomar, artigo de Maria João Mendes de Castro.
Dicionário
Sirga: Cabo com que, da terra, se alam ou se puxam embarcações que navegam em rios ou canais.  Ação de puxar um barco ao longo da margem por meio de corda ou cabo
Álveo: Entende-se por leito ou álveo a porção do terreno que a água cobre sem transbordar para o solo natural, habitualmente enxuto.
Cômoro: pequena elevação isolada de terreno; montículo, parede de suporte de terreno em socalco (Do latim cumŭlu-, «montão»)
Cachão: Cordas de pedra nativa que atravessa o Tejo e que faz com que as águas formem alguma queda, ou salto a ponto das embarcações não passarem de baixo para cima.
Represa: Obras que fazem para conduzir águas aos moinhos (utilizavam-se árvores em sítios estreitos do Tejo).
Cascalheira/s: pedras miúdas que represam sítios do rio, formam pequenas quedas de água, dificultam a passagem de barcos.
Barco a ser puxado à vara num “Caminho de Sirga”

ANEXO “B”
UMA LATRINA NO PRESÍDIO MILITAR DE ABRANTES!
            Por José Manuel d’Oliveira Vieira
            No local onde em tempos foi a prisão militar do Castelo de Abrantes, durante as obras de reabilitação que tiveram lugar nos anos 2002/2003/2004 e concluídas em 2009, ficou a descoberto um sistema de escoamento com ligação ao exterior da muralha em tudo semelhante às latrinas usadas nos castelos medievais (fig.1).
      fig.1
            Na falta de um documento escrito ou peça arqueológica que nos diga que o sistema de escoamento posto a descoberto para o exterior das muralhas remonte à data da construção da fortaleza (século XII), remodelação (século XIII), transformação do Castelo aquando adaptado para servir de paço aos Condes de Abrantes (século XV), presídio militar (século XIX), que se encontra por baixo das janelas da prisão poderá ser o escoamento de uma latrina (fig. 2).

fig. 2
A existência de um encanamento a atravessar aquela prisão militar do Castelo de Abrantes, a não ser dada uma outra explicação, poderá ter sido sistema de escoamento da/s latrina/s da Casa do Governador e da prisão, uma vez estar fora de questão o proveitamento das águas da chuva por as mesmas serem aproveitadas para as cisternas da fortaleza e estas se encontrarem afastadas deste local.
É sabido, e disso existe abundante documentação dos “vazos retrete” (individuais), usados pelos doentes no grande Hospital Militar de Abrantes. Para os sentenciados, não há memórias.
O desenho que se encontra no Álbum do Capitão Manuel Izidro da Paz (1812/1814), que esteve em Abrantes durante as Campanhas da Guerra Peninsular, mostra-nos como eram esses “vazos retrete” (fig.3).  

fig. 3