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HISTÓRIA MILITAR DE ABRANTES (X)


Por José Manuel d’Oliveira Vieira
1816
-Governador da Praça de Abrantes o Marechal de Campo D. Luis Inocêncio Benedito de Castro, 3º Conde de Resende(a).  
-Cartografia: Planta em que se mostram os projectos dos melhoramentos da Praça d’Abrantes para a tornar inexpugnável (b).
1816 – Praça de Abrantes
DO MESMO ANO: Planta da Praça d’Abrantes com os projectos dos melhoramentos nas fortificações à época e uma planta dos perfis de algumas fortificações e fossos* existentes nos mesmos. Em qualquer uma das Plantas da Praça d’Abrantes podemos ver o local das “baterias de Stº António, reduto de S. Francisco, reduto de Stª Iria e baluarte de Stº André entre outros (c). 
*FOSSO/S: Escavação em todo o círculo da fortaleza ou só nas partes mais expostas (como foi o caso do Castelo de Abrantes), que dificultava o acesso às entradas e a aproximação às muralhas (d)
JANEIRO 1: Na “Tabela do Regulamento Organização do Exercito de 1816”, é proposto a colocação do Regimento de Infantaria Nº 20 na Praça de Abrantes AG223
JANEIRO 23: A comandar o Regimento de Infantaria Nº 20 na Praça de Abrantes o Coronel João Prior11
MARÇO 4/11: No lugar de Rio de Moinhos, Termo da Vila de Abrantes, Jorge de Mesquita Mascarenhas e Meneses, Coronel do Regimento de Milícias de Tomar estabelece o seu Quartel e inicia uma inspecção à Capitania Mor de Abrantes, ouvindo em auto de averiguações o Capitão Comandante de Ordenanças da Vila de Abrantes José Henriques de Carvalho, Capitão-mor João Marques Ferreira Annes de Oliveira, Sargento-mor Vicente Manuel Ferreira e outras testemunhas residentes no termo de Abrantes, devido a irregularidades nos mapas de sorteamento e recrutamento11
MARÇO 6/12:Por não haver no Regimento de Infantaria Nº 10 em Santarém Calceta*, e Cadeias precisas para o Soldado da 3ª Companhia Bernardo Ferreira, cumprir a Sentença do Conselho de Guerra que o condenou em dois anos de trabalhos públicos, com as mencionadas Calcetas, e Cadeias delgada, preza da perna á cintura, o Principe Regente determina que o Soldado Ferreira seja remetido para os calabouços e cumpra a sentença na Praça de Abrantes11
AHM
*Calceta, s.f Argola de ferro presa na perna, de que sai uma corrente, como trazem os forçados das galés.§. A calceta, fig. Os forçados das galés, que sayem ao serviço pelas ruas AG128
MARÇO 23: Pelas acções praticadas por militares e civis na defesa da Praça de Abrantes, no dia 4, 7 e 13 de Novembro de 1810, o Brigadeiro João Lobo Brandão de Almeida, solicita em ofício ao “Nobre Senado de Abrantes” que registe no livro da Câmara, para ficar em memória, os nomes do Ministro, Vereança, que servião naquelle tempo, e os Comandantes dos Corpos, e mais Empregados abaixo declarados:
Senado
- Juiz de Fora, Francisco José Barboza P. C. Mareca.
-Vereador, André de Moura Castanhos.
-Vereador, Dr João Vaz Soares.
Comandantes Corpos Militares
-Governador e Coronel Cmdt do Regimento Nº 13 de Infantaria, João Lobo Brandão de Almeida.
-Coronel Cmdt Artilharia, Caetano António de Almeida.
-Ten. Coronel Cmdt do Regimento Infantaria Nº 22, João Watling.
-Major Cmdt do Regimento Cavalaria Nº 9, Francisco Ignacio Pessoa de Mello.
-Coronel do Regimento Milícias Arouca, José Guedes de Magalhães.
-Coronel do Regimento de Milícias da Lousã, Jerónimo Colasso deMagalhães.
-Ten. Coronel de Milícias de Soure, Gil de Almeida Souza e Sá.  
Engenheiro da Praça
Pedro Patton
Empregados Civis
Primeiro Médico do Hospital Militar, Francisco José Siqueira.
Primeiro Comissário de Viveres, Manuel Pereira da Cruz.
Capitão-mor do Distrito
-João Marques Fernandes de Oliveira – ainda que não assistiu dentro da Praça, esteve sempre prompto a executar as minhas ordens – Hé quanto se me oferece ficando certo,que merecerá a aprovação de V. Sª., e mais Senhores da Camara11.  
ABRIL 2: João Delgado Xavier, Juiz de Fora Presidente, participa ao Governador da Praça de Abrantes que o Oficio de 23 do mês passado, submetido a votos, não fosse registado nos livros da Câmara por decisão dos Oficiais da mesma, por não ser da sua competência, nem constar que a mesma Praça, e sua Guarnição fizessem resistencia ao inimigo o qual não atacou, e que com ordem de Sua Alteza Real se registaria, quando o mesmo Augusto Senhor, se digne assim mandar […] 11 (ver: JULHO 18/SETEMBRO 4 e Anexos A/B).
ABRIL 8: A partir de Abrantes, o Brigadeiro João Lobo Brandão de Almeida, informa o Conde de S. Paio que o seu Destacamento Militar tem “contido os salteadores a uma distância de cinco léguas* da Praça de Abrantes, não se atrevem a aproximar, os habitantes os povos vizinhos e viajantes encontram-se seguros”11
*Légua (medida itinerária portuguesa equivalente a 5 quilómetros).
ABRIL 13/23:Joaquim Soares Mendes à época Procurador do Concelho, requere e é deferido o pagamento de catorze vales de azeite que forneceu por ordem da Câmara para as luzes dos quarteis desde 1 de Fevereiro de 1812 até 22 de Janeiro de 181311
ABRIL 20:A desempenhar a função de Governador Interino da Praça de Abrantes, Coronel de Veteranos, José Andrade Vidigal recebe um grupo de presos e louva a sua escolta e respectivo comandante, referindo o facto a António de Azevedo Coutinho, comandante do Regimento de Cavalaria 11 de Castelo Branco, bem como a “boa ordem, disciplina, e subordinação, em que teve o Destacamento” em serviço nesta Praça11.
ABRIL 30: Em arrecadação, na margem norte do Tejo em Abrantes: amarrações, madeiras e utensílios de cobre, ferro, madeira, maçane, pontões, pregaria e mais utensílios que se achavam em sobressalente para serviço das ditas pontes pertencentes às pontes militares de barcas de Abrantes, Punhete e Vila Velha que estiveram colocadas sobre os rios Tejo e Zêzere,”11. 
AHM
MAIO 17: Nesta data o Brigadeiro João Lobo Brandão de Almeida ainda se encontra no Quartel de Abrantes11
JUNHO 17/22: João Lobo Brandão de Almeida, já como Marechal de Campo, Comandante Interino das Armas da Beira faz despachos a partir do seu Quartel-general em Abrantes e envia a D. Miguel Pereira Forjaz relação dos oficiais e oficiais inferiores que foram encarregados da inspecção a diferentes Capitanias Mores Provincia da Beira11
JULHO 18: João Lobo Brandão de Almeida refere ao Ministro D. Miguel Pereira Forjaz como um insulto o “Acórdão do Senado” por estes se recusarem a registar nos livros da Câmara, para memória futura, o nome dos militares e civis que repeliram o inimigo nos três grandes reconhecimento que fizerão em 4, 7 e 13 de Novembro de 1810, e em todos os mais acontecimentos […] Sobre os signatários do “Accordãorefere que à época dos acontecimentos, à excepção do Presidente João Delgado Xavier que era Juiz dos Órfãos da Décima Freguesia de Nossa Senhora dos Mártires de Lisboa […] todos abandonarão,a Praça de Abrantes, retirando-se deste ponto, conduzidos de medo […] 11. 
SETEMBRO 4: Em execução da Ordem de El Rey Nosso Senhor (Aviso de 22 do mês passado), se mandem riscar nos mesmos Livros o Accordão, que a Camera fizera lançar nelles com resposta negativa áquelle officio […]11. 
NOTA: Por se julgar de interesse para a história local, e, por contradizer o “Accordão” do Senado de Abrantes” se reproduzem dois relatórios escritos à época dos acontecimentos (Novembro de 1810), por Brandão de Almeida, os pormenores das acções militares11  (ver Anexo A e B).
OUTUBRO 31: Empregados e doentes no Hospital Militar de Abrantes: 1 director, 1 capelão, 15 empregados de saúde, 9 empregados da fazenda, 66 doentes11
AHM
NOVEMBRO 13: Para alojar oficiais na Vila da Praça de Abrantes, Duarte José Fava refere ao Visconde de Juromenha: Cazas pertencentes a Maria Micaela, Viuva do Dor Francisco Gameiro, em que se projectava fazer Quartel para Officiais do Destacamento d’Artilharia, não tem tanta comodidade, como a Barraca projectada para este mesmo fim, como evidencia a planta junta Nº 1…11. 
Nota: Não foi possível localizar o nome dos proprietários e a casa em questão. No entanto, se algum dos, visitantes desta página tiver a informação agradeço. A cisterna que está localizada na planta da casa pode ser uma pista.

Abrantes - Casa de Maria Micaela, Viúva do Dor Francisco Gameiro
AHM
Anexo A
Relatório do Governador da Praça de Abrantes, João Lobo Brandão de Almeida para Manuel de Brito Mouzinho (04-11-1810)
Ao momento, que estava oficiando a Vossa Senhoria, e aprontar para mandar o Correio da Posta Militar me avisarão que vinham Tropas de Sul do Tejo; fui imediatamente ao Castelo observar o que era, reconheci, que eram Espanhóis, e eram setenta Cavalos, que se vieram … (!) ao Brigadeiro D. Carlos de Espanha; um momento depois me vieram dar parte, que os Inimigos se avizinhavam da parte de Punhete sobre Rio de Moinhos; fui a Santo António, e observei o Inimigo, porem … (!), que o nosso Piquete estava postado para diante da Esplanada, que está cobrindo as duas estradas, que ali estão, estava já fazendo fogo com a avançado do Inimigo, e o Tenente Coronel Watting tinha saído com a maior parte do seu Regimento para suster, e obstar o Inimigo, fui então obrigado a fazer sair quatrocentos homens, duzentos do Regimento Nº 13, e duzentos do Regimento de Cavalaria Nº 9 para cobrir os flancos das alturas, e evitar, que o Inimigo pudesse cortar o Regimento Nº 22, que com demasiada coragem se tinham engajado, fiz vir duas peças de Artilharia de 3, com que lhe fiz alguns tiros, a Companhia de Caçadores do Regimento Nº 22 por toda a parte fazia fogo com uma bravura incrível: não sei, que tivéssemos morto algum, dos Inimigos dizem, que vários. Eu agora dei uma ordem para reprimir a coragem dos nossos Militares, que se devem curar os cavalos, quando se necessite, e forem mandados. Remeto a Vossa Senhoria carta do Capitão-mor de Abrantes, que recebi ao pôr do Sol. Torno a repetir a Vossa Senhoria, que D. Carlos está guardando a Ponte, e os Vaos; as posições estão tomadas, e só no último caso se lhe deitarão fogo.
Deus Guarde Vossa Senhoria
Quartel de Abrantes 4 de Novembro de 181011
Anexo B
Relatório do Governador da Praça de Abrantes, João Lobo Brandão de Almeida para Manuel de Brito Mouzinho (07-11-1810)
Tendo tido noticia ontem, que os Franceses tinham retirado a maior força, que estava em Punhete, passando toda a Artilharia, Gados e a maior parte da Tropa para o lado de Norte, combinei com o Brigadeiro D. Carlos de Espanha, que seria mui útil atacarmos a gente, que ali estava, destruirmos a Ponte, e queimar-lhe seis ou sete barcos que tinham acarretado para ali em Carros; fez D. Carlos passar para a parte de cá a sua Cavalaria para espiar o Campo quinhentos homens de Infantaria, e com mil e quinhentos de todos os Corpos da Guarnição, marchamos com intenção de irmos a Punhete, porém logo que passamos Amoreira entrou a Cavalaria Espanhola a bater-se com os Franceses e as Companhias, que servem de Caçadores também fizeram fogo continuado de sorte que os Inimigos retiraram-se sobre Montalvo, eu fiz adiantar duzentos homens, D. Carlos trezentos, porem os Franceses se formarão em Linha de Batalha na altura das Casas do Capitão Mor; e como disseram alguns paisanos, que eles terão trezentos a quatrocentos Cavalos, não nos detivéramos ataca-los, e depois de um tiroteio toda a tarde nos retiramos em boa ordem sem perder um só homem, nem ferido, e sabemos, que os Inimigos perderão três homens, e só quatro Cavalos de D. Carlos foram feridos. Os paisanos continuam a fazer uma guerra terrível aos Franceses, matando neles continuadamente, e hoje me remeterão para aqui três prisioneiros vindos de Espanha.
Deu Guarde V. Senhoria
Quartel de Abrantes 7 de Novembro de 181011
 11 AHM.
(a) Despacho 17 Dezembro 1815 Gazeta Lisboa Nº 98 de 1816 – pg. 435.
(b)Angelo Centazzi 2º Tenente do Real Corpo d'Engenheiros – Cota: 51-1-1-1 DSE CRT6/2002 DIE.
(c) Cota: 156-1-1-1 DSE CRT24/2002 DIE). Cota: 158-1-1-1 DSE CRT29/2002 DIE.
(d) Dicionário de Arquitectura Militar – Nunes, António Lopes Pires pg. 12. 
AG 223 Pg 416.
AG 128 Pg 324.